ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Inacabado


No olho desta fechadura (¡)
existe outro olho
de um poema inacabado,
nu,
que espera você
e espia
este.
Veja-o sem rubor.
Depois pode terminá-lo.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Esperas


Nossas esperas nos enganam.
Nem tudo que não chega,
é ausência.
Espelho no espelho.
Eu,
você,
calados,
até nos olhos,
esperando o que partiu de nós,
imóvel,
sem ir,
levando-nos.

Do livro "Cerimônias do Silêncio"

sábado, 24 de julho de 2010

Translúcido no poema


Transcrever o que
respira
e conspira na dor.
Ouvi-lo em pé,
caindo manuscrito
por lágrimas e pálpebras.
Tirar a carne até o osso
da palavra.
Transparecer os medos,
lábios secos das mãos,
que beijam dedos
e mordem.
Então,
desaparecer repleto,
contido no poema.
E mudar translúcido,
como céu que acaba,
sem sair do lugar.

terça-feira, 20 de julho de 2010

Ouve...


Um centímetro de silêncio
entre nós.
Um livro aberto,
um muro,
um mapa,
vozes sem palavras.
Ouvir o escrito,
palpar o que sobe
por gargantas e desce
pelas mãos.
Poderia dizer nada,
mas olhos denunciam
que a vida arde
embaixo da linguagem
e cresce pulsando.
A voz morre à meia voz
e cala sempre sobre você.
Há ruídos míopes de corpos
quando quebram o que ocultam.
A boca só pode ser útil vazia.

[...] Ouve.

Nada se parece ao que não sabemos dizer.


(Do livro "Cerimônias do Silêncio")

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Dor de espinho


Escrever não alcança.
Meus olhos não alcançam.
A escrita se faz apenas verbo
e não enxerga no final da rua
a tarde chorando,
sozinha, azul e
vermelho nas sombras.
A noite coloca a mão no ombro
e caminha junto. Nuas, crepusculares,
nossas almas se igualam.
A escuridão novamente
chega à minha porta,
bate na minha boca,
trazendo esta dor de espinho
entre a carne
e a palavra.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Abuso


“É preciso encontrar: palavras, que servem de alimento ao hábito, mas que nos desviem destes objetos cujo conjunto nos atrela; objetos, que nos fazem escorregar do plano exterior (objetivo) à interioridade do sujeito.
Darei um só exemplo de palavra escorregadia. Digo PALAVRA: pode ser também a frase onde se insere a palavra, mas me limito à palavra silêncio. Da palavra ela já é, eu disse, a abolição do ruído que é a palavra; entre todas as palavras é a mais perversa, ou a mais poética: ela é a propria garantia de sua morte”.
Georges Bataille em “Experiência Interior” (na introdução do meu livro "Cerimônias do Silêncio")



Não,
o silêncio
apenas abusa em ouvir-se.
Nele a palavra
pássaro
não consegue voar.

O pássaro, sim.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Novo livro


Matéria publicada no jornal:

Através de um concurso literário realizado em 2009, 133 poetas e escritores foram selecionados entre cerca de 600 inscritos, para ilustrar com palavras o livro “Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus - 2009”. A obra coletiva será lançada durante a 21ª edição da Bienal Internacional do Livro de São Paulo, no Pavilhão de Feiras do Anhembi. Dentre os poetas estão 27 baianos, além de portugueses e um americano.

Entre os vencedores está o poeta e escritor riossulense Gabriel Gómez. A poesia “Infidelidade” rendeu ao autor a oitava colocação no concurso, além da publicação de seu material no livro. “É uma grande satisfação representar Rio do Sul em um concurso de grande dimensão como este, onde concorri com representantes da literatura brasileira e de fora.”, comenta Gómez.

Valdeck Almeida, organizador do prêmio literário, acalentou a ideia do concurso desde seus 12 anos de idade, quando teve o primeiro contato com a poesia de Drummond, Castro Alves, Augusto dos Anjos e os cordéis escritos por vários gênios da literatura popular nordestina. Há 32 anos Valdeck compõe poemas e se aventura pelo mundo dos contos e crônicas.

O primeiro livro-filho de poesias, “Feitiço Contra o Feiticeiro”, no entanto, só veio à luz após vinte anos de gestação. Foi parido, parto normal, e caminha até hoje por este Brasil a fora.

Valdeck Almeida de Jesus sabe o que é correr atrás de editoras e receber não como resposta. Não queria que outros poetas tivessem a mesma falta de sorte. Por isso, criou o “Prêmio Literário Valdeck Almeida de Jesus”, que dá oportunidade a gente do mundo inteiro.

sábado, 3 de julho de 2010

Nietzscheano


Sua montanha não se movia.
Não havia montanha,
nem Maomé.
Apenas a cárcere
desta convicção.
A fé coloca fé
onde não há nada;
a desdobra para dentro,
ignora aquilo que é verdade
e assim mesmo vai
sem ir.
Mal entrava o corpo na sua sombra,
Mal refugiava a oração na boca.
Mal soletrava a própria voz.
Ar puro, onde?
O vento gasta fisionomias.
A chuva morde
a fumaça de vida.
As viagens se desprendem
neste mapa de perder-se.
Fora do medo,
tem a beira
deste abismo para dançar.

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