ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

segunda-feira, 30 de maio de 2011

Dizer nada

Sempre digo o mesmo. Não digo.
Não consigo dizer
nada
a ninguém
para nada
de outra forma de outra
tristeza
como alegria que se acaba
que caduca respirando
equivocada
por dizê-lo de algum modo
por dizer algo
e quem dirá já disse
que é grito gesto
temperatura
que digo sempre o mesmo
Nada
E esta forma de morrer
de palavras nas pontas dos dedos
dos lábios que importa
se caem fogem reaparecem
se afundam apagam
e não ter mais respostas
não ter menos
ou mais você
para que tudo se
todas as coisas
andam dizendo tanto
que as vezes não chega
não te chegam
por isso já não direi
se soubesse se pudesse
dizer apenas
dizer quanto.

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Os outros

Existe uma significativa diferença entre dominar qualquer outro idioma e ter a pretensa capacidade de conseguir traduzir, com os atributos e características do autor e da palavra, um bom texto literário.
Lembremos que os vocábulos traduzir e seus derivados possuem a ideia de “fazer passar, pôr em outro lugar”, mas, discutivelmente, não seria apenas isto. Há o conhecido jogo de palavras em italiano que diz "Traduttore, Traditore", cuja tradução é "Tradutor, traidor".
E o que falar da poesia então? É traduzível? O tradutor precisa ser poeta? Apenas procurar sua equivalência, musicalidade ou sua forma e conteúdo? Os questionamentos são extensos por parte de autores, tradutores e até céticos do tema. Vale lembrar que alguns dos maiores escritores na sua língua (citemos apenas como exemplo, Manuel Bandeira e Borges), já foram ótimos tradutores, e até valorizaram sua própria obra com prêmios e reconhecimentos neste exercício.
Mas a ideia não seria discutir o extenso questionamento histórico e sim me deter desta vez, em apenas uma palavra que, mesmo tendo seu “equivalente” traduzível em diversos outros idiomas, seu amplo sentido parece incompleto ou perder-se em parte.
Assim como existe a intraduzível e conhecida “saudade” em português, onde parece impossível achar um equivalente tão representativo em outra língua, lendo um texto do filosofo Mario Sergio Cortella, percebi que a palavra “nosotros”, do espanhol, não consegue representar seu completo sentido quando traduzida...
Senão vejamos: literalmente “nosotros” seria apenas “nós” em português, ou “we”, no seu equivalente em inglês, por citar apenas dois idiomas. Comparativamente em “nós” e “nosotros” podemos perceber que a primeira separa o “nós” dos “outros”, ou seja, como destaca o filosofo, é quase uma barreira: nós por um lado, “vocês” do outro. O “nosotros” do espanhol exige perceber o outro como um outro e não apenas como um estranho. Afinal, quem são os outros de nós mesmos?, questiona. O homem por si só não pode se conhecer em sua totalidade. Não é que só através dos olhos de outras pessoas é que alguém consegue se ver como parte do mundo? Então, sem a convivência, uma pessoa não pode se perceber por inteiro. "O ser Para-si só é Para-si através do outro", ideia que Sartre também herdou de Hegel.
Isto, que poderá parecer até uma simples diferença etimológica, não é pouco.  
O “Nósoutros” poderia incorporar não apenas uma nova palavra, um sentido e conceito a mais, e sim a capacidade de enxergar um pouco de nós em cada um dos diferentes, imediatos e por vezes, distantes “outros”.
Apenas por isto, já vale a pena...

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Perguntas...

O que é voar, perguntas,
quando estás distraída?

Amar é ter asas
mas usá-las para ficar?

O que é chorar pelos ausentes?

Vazios de pele e lágrimas?

Como encontrar o rastro
do que não volta,
daquilo que não sai?

As datas avançam ou retrocedem?

E a vida, o que é
a vida? Quer tudo para si?

A memória tem o cheiro das coisas?

O que é uma despedida?,
perguntas
quando deixo flores em tua memória,
sem esperar ouvir as respostas.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Encontro com Horacio Ferrer


Autografando seu livro



























Nas muitas palestras e conversas na Feira do Livro de Buenos Aires, uma delas considero muito especial: meu encontro com o poeta Horacio Ferrer... E para quem ainda esse nome não lembra nada, é só pensar nos grandes sucessos do músico argentino Astor Piazzolla.
Entre tantas letras e parcerias, quem não lembra de "Balada para um louco"? (Veja o vídeo no final...).

Balada para un loco

(declamado)

Las tardecitas de Buenos Aires tienen ese no sé qué, ¿viste?.
Salís de tu casa, por Arenales .
Lo de siempre: en la calle y en vos...
Cuando de repente, de atrás de un árbol, me aparezco yo.
Mezcla rara de penúltimo linyera y de primer polizonte a Venus:
medio melón en la cabeza, las rayas de la camisa pintadas en la piel,
dos medias suelas clavadas en los pies y una banderita de taxi libre
levantada en cada mano. ¡Te reís!...
Pero sólo vos me ves: porque los maniquíes me guiñan;
los semáforos me dan tres luces celestes,
y las naranjas del frutero de la esquina me tiran azahares.
¡Vení!, que así, medio bailando y medio volando,
me saco el melón para saludarte,
te regalo una banderita y te digo...

(Cantado)

Ya sé que estoy piantao, piantao, piantao...
No ves que va la luna rodando por Callao
que un corso de astronautas y niños, con un vals,
me baila alrededor... ¡Bailá!... ¡Vení!... ¡Volá!

Ya sé que estoy piantao, piantao, piantao...
Yo miro a Buenos Aires del nido de un gorrión;
y a vos te vi tan triste... ¡Vení! ¡Volá! ¡Sentí!...
el loco berretín que tengo para vos:

¡Loco! ¡Loco! ¡Loco!
Cuando anochezca en tu porteña soledad,
por la ribera de tu sábana vendré
con un poema y un trombón
a desvelarte el corazón.

¡Loco! ¡Loco! ¡Loco!
Como un acróbata demente saltaré,
sobre el abismo de tu escote hasta sentir
que enloquecí tu corazón de libertad...
¡Ya vas a ver!

Declamado

Salgamos a volar, querida mía;
subite a mi ilusión supersport,
y vamos a correr por las cornisas
¡con una golondrina en el motor!
De Vieytes nos aplauden: "¡Viva! ¡Viva!"
los locos que inventaron el Amor:
y un ángel y un soldado y una niña
nos dan un valsecito bailador.

Nos sale a saludar la gente linda...
Y loco –pero tuyo– ¡qué sé yo!:
provoco campanarios con la risa,
y al fin, te miro, y canto a media voz:

(Cantado)

Quereme así, piantao, piantao, piantao...
Trepatea esta ternura de locos que hay en mí,
ponete esta peluca de alondras ¡y volá!
¡Volá conmigo ya! ¡Vení, volá, vení!

Quereme así, piantao, piantao, piantao...
Abrite a los amores que vamos a intentar
la mágica locura total de revivir
¡Vení, volá, vení! ¡Trai-lai-la-larará!
¡Loca ella y loco yo!


(Gritado)

¡Viva! ¡Viva! ¡Viva!
Loca ella y loco yo...
¡Locos! ¡Locos! ¡Locos!

Declamou, emocionou, falou-me do Brasil (foi o criador e presidente da Academia Nacional do Tango na Argentina e, entre tantos outros países, também da academia daqui), das letras, poesias, de ser uruguaio e argentino... E na despedida, trocamos nossos livros, e com seu ar de poeta sonhador, se despediu com um beijo e um abraço.
Conheça mais de Horacio Ferrer AQUI.
O poeta Horacio Ferrer com meu livro "Exercícios da Ausência"

Horacio Ferrer - Paula Castignola "Balada para un loco" Festival de Tango Quilmes 2010


segunda-feira, 16 de maio de 2011

Torre de Babel de Livros



Na minha recente ida na Feira Internacional do Livro em Buenos Aires, eleita capital mundial do livro 2011 pelo Unicef, acompanhei (e registrei) a inauguração na Praça San Martin (a metros do apartamento onde morou o escritor argentino Jorge Luis Borges), da estrutura de 25 metros de altura da batizada “Torre de Babel de Livros”, da artista plástica pop Marta Minujin.
Foram necessários mais de 30 mil livros para recobrir a estrutura metálica, impressos em diferentes paises, com diferentes idiomas e temáticas. Perto de metade dos livros que serviram de "tijolos" para a construção  da torre foi oferecida por 50 embaixadas em Buenos Aires, mas a outra metade vem de doações de milhares de pessoas mobilizadas graças a uma campanha  pública para esta "obra de participação maciça", nas palavras da artista, pioneira do maior movimento artístico dos anos  1960 na Argentina, o Instituto Di Tella.
A criadora declarou que o propósito foi ir contra o mito da Torre de Babel, onde os homens tentaram construir uma estrutura para chegar ao céu. Sabendo disto, Deus os fez falar diferentes línguas para a idéia não prosperar. “Quero contrariar esta idéia e que os homens voltem a falar o mesmo idioma. Convertê-lo em dialogo...”, declarou.
Durante uma visita guiada, os visitantes ouvem uma gravação com a palavra “livro” dita em vários idiomas. Após o passeio entre livros, eles recebem uma cópia do conto “A biblioteca de Babel”, do Borges.
Para que a instalação não seja danificada, o Governo decidiu organizar as visitas por grupos. Elas são gratuitas e agendadas no próprio local ou no site da Câmara Municipal de Buenos Aires.
A obra estará exposta ate o dia 28 de maio. No último dia de exposição da peça os visitantes podem  escolher um livro na língua da sua preferência e levá-lo. 

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Adeus

Olhar
para não dizer palavras,
como fogo em outro estado,
pálpebras como virgulas,
como gesto ferida voz
como dizer não
e uma lágrima
pesada amarga
inteira sobre mim
como ponto final.

Falando por nós.

quinta-feira, 12 de maio de 2011

Alejandra, pequena passageira

Para Alejandra Pizarnik.
(Inspirado num poema de Olga Orozco e nos
diários da própria Alejandra)

Sei, Alejandra,
a rebelião continuará
em observar uma rosa
até os olhos se pulverizarem...

Mas chegaste cedo, infantil,
Antecipando, em pequenos versos,
o silêncio
que viria.

Citando de memória
a nunca tão bela!

Existia uma lâmpada que um anjo segurava
na cama triste de sanatório
e alguns comprimidos que tomaste
esperando acabar a espera
para aquele abismo
da flor e seu jardim,
de escrever com o corpo todo,
para dar sentido ao sofrimento;
nua na página em branco,
teu sexo, tanto medo e
um céu ausente, sem nome,
substituível.
Abraçando cada noite
uma frase apenas tua.
A obra de sombras:
cansaço, mar, sangue,
relógio, barco, pássaro...
As mesmas palavras te consomem
e atravessam as minhas.

E sabias
que no fundo dos lugares,
sempre há um jardim,
também denso, intenso,
profundo.

O jardim do jardim.

Parêntesis das coisas mortas.
Solidão exasperada, de asas,
perigosa.

Amas a noite na tua noite,
que fica o tempo certo para repetir
e repetir: é de noite,
e que assim seja,
que seja ela, sem desmentidos.
Insônia, abandonada,
aquela música de Janis Joplin,
fumando, sozinha no quarto,
bebendo, chorando, amando
o que se faz carência.
Dói o espelho onde te olhas,
pesa este desamparo.

Onde guardar tantos papéis?
E os lápis de cor?
Como morrer de presença?
Onde pôr aquela flor?

Queria te ajudar
a não pedir ajuda.
Mas
a verdade é este pouco a pouco
que te extingue devagar,
um jardim onde não se respira,
uma distância enlouquecida,
um correr para apenas
não chegar.
Perdes o que necessitas arrastar
para não morrer de angústia.
Mas
encurtaste a viagem
da carne, do poema,
engolindo tua sede
de não ter escolhido a vida,
de perder-te, fugir, no medo e na loucura
de ‘não querer ir nada mais que até o fundo’.*

De esperar mais nua que a morte,
que uma palavra.
Que o fundo deste jardim.
De confessar que cada noite
esqueces de suicidar-te,
Esqueces...
Esqueces.
Até que um dia lembras
e partes... Até o fundo
da última esperança.

Pequena passageira.

(* Frase que deixou escrita no quadro negro do apartamento na
noite do seu suicídio)

Poema do meu livro "Exercícios da Ausência"


(Saiba mais sobre ela AQUI)

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Daniel 12:4

"Finalmente os detratores de George de Burgos ficarão sossegados com seu desaparecimento. Tanto sua literatura como o seu original sistema matemático que determinava e gerava sua escrita foram alvos de ilimitados, contundentes e imerecidos ataques literários.
Ninguém que reverenciou sua obra poderia esquecer as injustas e incisivas críticas publicadas por Harold Bloomer definindo sua produção de medíocre, “plagiador de Babel” e afirmando que não confiava em nada que poderia sair da sua “autoria”. Esta mesma escola do ressentimento criou pessoas que, em vez de apreciar sua grandeza artística, preferiram espezinhá-la. Evidentemente não se constrói uma revolução literária desprezando novas metodologias. Seus inúmeros leitores não estavam preocupados na inexistência de qualquer processo de inspiração, criação, concepção e até de que maneira conseguia chegar a sua maravilhosa literatura. Alguns juízos de valor foram primeiramente questionados, mas a paixão e reverência pela sua bibliografia e a de muitos autores que se serviram desta foi maior.
De que adiantaria saber que Shakespeare nunca escreveu uma línea? Que não teria figura nem disciplina suficientes para justificar seu gênio; que seu verdadeiro autor foi ou não o político e diplomata Henry Neville, que ocultou seu verdadeiro nome por não poder assumir determinadas posturas? Suas tragédias emocionariam menos? Sua perfeição cairia no abismo por supostamente ter um ghost writer? A existência de Shakespeare é objeto de disputa desde o século 19. Já se afirmou que Francis Bacon, Christopher Marlowe e até mesmo a rainha Elizabeth I seriam os reais autores de seus textos... O que não poderia então ser dito difamatoriamente contra George de Burgos? Que nunca existiu a genialidade de suas novelas, tragédias, contos, poemas e inúmeras obras primas da literatura universal? Se muitas vezes Burgos chegou a ser o próprio William Shakespeare! Sei que poderei exagerar na sua defesa, mas nunca assim procederia se não tivesse colaborado servilmente por tanto tempo, organizando seus papéis. Sei que seus propósitos foram nobres...
É difícil qualificar e até mesmo rejeitar sua descoberta literária. Nasce de um desejo de originalidade do seu mundo íntimo. Não me perguntem como conseguiu desvendar a fórmula do número que tenha ultrapassado o milhão na organização de apenas uma dúzia de páginas. Era incrível ver como milhões de folhas ocupavam apenas algumas. Sua filosofia não condiz com as implacáveis criticas que puniam seu processo dado como artificial e dissimulado, e que beirava a loucura. “Sou como a definição dos estóicos, onde a sabedoria consiste em ter a razão por guia; a loucura, pelo contrário, consiste em obedecer às paixões”, escreveu num dos seus contos memoráveis. E esse pensamento não esgota sua revelação. Sua irônica postura existencial foi justamente o motivo central da sua narrativa.
Tinha decifrado o código por meio de operações matemáticas que continham o resultado de todos os algarismos, de todas as letras e símbolos de todos os idiomas, transformando cada resultado num significado oculto do qual bastava escrever
aquilo que se queria, no estilo escolhido, e até no pretenso autor (existente ou não), para ter um resultado final extraordinário. Sua escrita randômica acumulava informações ocultas sob a forma de seqüências alfabéticas eqüidistantes.
Séries bidimensionais eram somadas a seqüências alfabéticas formando palavras com sentidos exatos. Outra com resultados múltiplos. O desenvolvimento destas ferramentas quantitativas para mensurar o fenômeno, sem dúvida gerou cânones literários inesquecíveis. A memória literária era total e abrangia o incondicional das possibilidades..."

Trecho do meu conto "Daniel 12:4", A culpa é do livro.

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Não alcança

Na pichação
dos grafites mudos
                           nos muros
                                        dos outros
acreditei dizê-lo tudo.

Nada disse.

Apenas neguei,
com letras alheias,
o que nomeia
                   e não alcança
                                      na própria saliva.

quinta-feira, 5 de maio de 2011

Emprestar ou não emprestar um livro? Eis a questão

João comprou um livro bom, que emprestou a Mariana, que adorou e emprestou ao namorado, que não leu e não gostou, mas o emprestou ao Oliveira, que só leu até o meio, antes do acidente, e a finada, Dona Aurora, achou o livro, não leu, não devolveu, nem sabia como, mas o ofertou ao vizinho, o simpático Sampaio, que gostou tanto do livro como da finada, e se casaram, mas o livro, enfim, morreu no Sebo depois que os dois se separaram… 

Emprestar ou não emprestar? Eis a questão. Não falo de um livro ruim, que não gostamos, que nos foi dado e está ocupando espaço na estante. Falo de nossos “grandes livros”, aqueles que relemos vez ou outra, que amamos, que gostamos de passar olhar e ver que continua ali, que mostramos aos amigos, aos filhos e que não poucas vezes fazem parte da herança, do legado que deixamos. 

Não são poucos os que não emprestam livros nem por ordem judicial, não falam do assunto e passam a vida a pensar em desculpas para não emprestá-los. Também existem aqueles que emprestam, não sabem negar, mas dolorosamente sofrem a cada dia em que o dito não volta. Óbvio que existem os “senhores gentileza” que emprestam sempre, que não se incomodam e nem se revoltam quando o “livro sagrado” foi parar nas mãos “de quem mesmo?” 

O poeta e escritor
Gabriel Gomez, autor de Borges e outras Ficções (2008), em sua obra “A culpa é do livro”, uma coletânea de dez narrativas deliciosas, cada uma contando uma história muito própria com relação a algum livro (a culpa por qualquer coisa é sempre do livro), em uma delas conta que se costumava escrever nos livros uma maldição para aquele que por ventura ousasse colocar as mãos no seu livro (“A quem furtar um livro da minha biblioteca, que se transforme em uma serpente em suas mãos e o subjugue, que seja atacado por paralisia e todos os seus membros sejam amaldiçoados. Que agonize em dor, gritando por perdão. Que não haja descanso para sua agonia, até que se afunde na dissolução. Que os vermes dos livros roam suas entranhas…”). Gomez mostra que cada livro tem para cada leitor uma importância visceral, formando, ambos, quase uma amalgama. Escreve ele em uma das narrativas (O bilhete perdido): “Cultivei o ato da leitura sabendo que nenhum livro é o primeiro, e nenhum é o último. Sempre percebi que formar uma biblioteca é um ato de criação; assim, como considero livros o principal instrumento da imaginação, não os leio tentando aprisionar o superficial. Todos esses livros são, para mim, companheiros vivos, que sorriem, choram, abusam, formam, acalentam, respiram. Minha surrada colcha de retalhos literários. Convivem pacificamente entre novos e velhos, lidos e esquecidos, clássicos e anônimos e valem pela satisfação que provocam em quem os têm nas mãos. Eu os sinto todos ligados a mim por laços invisíveis e remotos”. É a pura verdade, e como emprestar para alguém algo assim? 

Já o romancista, ensaísta e editor Alberto Manguel, em sua obra
Uma história da leitura (1997) escreve que um livro traz sua própria história ao leitor. Será possível emprestar nossa história para outros? Ou será que por isso mesmo devemos emprestar, para que os íntimos possam saber o que nos é caro? Cada um terá sua própria resposta com referência ao ato de emprestar um livro. Qual é a sua?


Kelly de Souza é jornalista colaboradora da Revista da Cultura e Blog da Cultura. Compulsiva por literatura, chocolate e escrita - não necessariamente nessa ordem.

terça-feira, 3 de maio de 2011

Promoção Dia das mães

O blog "Vale por Elas" fez uma promoção para o dia das mães...
Na premiação, segundo ELAS (Rita, Franciane e Fabiana) informam:

"Sua Mãe vai adorar ganhar:

- Conjunto de brinco e pingente da Loja Styllus Fashion da querida  
Eliane (um doce de leitora. Para falar com a loja é só ligar 47 3522-7545).
- O livro de poesias lançado no último mês pelo talentosíssimo Gabriel Gomez – Exercícios da Ausência (espiamos o livro… e é maravilhoso).
- E um kit da Aroma do Campo para restauração dos cabelos. "

Entre AQUI e participe...!

(Obrigado meninas...)

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Tocar como tocar-te

Como te tocar com as mãos
Como não te tocar e repetir gestos cegos
impotentes até o fundo dos dedos
até o intenso fundo
daquilo que já não te encontra
que já não consegue escrever
e recolhe minha tinta
minha calada e encoberta tinta
que te acha alheia
em tantas outras coisas
e que é tocar
e toca
como tocar-te.


(Amanhã estarei viajando para a Feira Internacional do Livro em Buenos Aires... Até a volta!)

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