ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Engano


Passo lista
e me engano
do teu nome ser o meu.
Que nem o silêncio
na partitura:
um novo símbolo
dizendo ao outro para calar.

Ninguém deveria ocupar o ausente.
Há sempre restos de finais nele.

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Nosso imortal: Flávio José Cardozo


Uma semana antes da Feira do livro, me ligam da Unimed – Rio do Sul:
- Gabriel, o escritor Flávio José Cardozo vem para um encontro e homenagem com alunos da rede estadual, gostaríamos também da tua presença...
Claro que aceitei e estava no outro dia, bem cedinho, na sede onde tinham preparado o palco para sua conversa e algumas apresentações recriando alguns dos seus contos...
Nosso encontro foi muito agradável e de muita conversa. Meu nome, ele já conhecia pela nossa amiga em comum: a escritora e professora da UFSC, Regina Carvalho. O seu, eu também conhecia pela leitura de alguns textos e pelas inúmeras histórias da Regininha que sempre comentava do seu “compadre” Flávio... Aliás, quem não conhece este querido autor catarinense?
O nosso imortal, cadeira 23 da Academia Catarinense de Letras, que no seu discurso de posse tinha citado o escritor argentino Ernesto Sábato, não poderia imaginar, mesmo com tantas ficções na sua literatura, que outro argentino atravessaria no seu caminho tempo depois...
Flávio conquistou o público presente e a este humilde escritor... Almoçamos juntos, rimos juntos, falamos de Borges (de sua passagem como tradutor do escritor argentino para a editora Globo) de histórias literárias e das outras... Assinei orgulhoso meu “Borges e outras ficções” e despedimos-nos com a promessa de marcar novos encontros...
Logo, logo recebo um e-mail da Regininha: “Só pra ficares mais besta ainda, hehehehe”, e junto com este sarcástico comentário, um trecho do e-mail do Flávio: “Comadre, parabéns! Sim, comadre, parabéns pelos amigos que tens. Volto de Rio do Sul (onde fui conversar com estudantes no projeto Encontro Marcado / Unimed) muito contente por ter conhecido o Gabriel Gómez...”.
Fiquei realmente tal como ela tinha previsto. Respondi que aquele encontro ilustrava muito bem o ditado que sentencia que os amigos dos meus amigos, também são meus... Fiquei também sabendo que um outro e-mail, do mesmo teor, foi encaminhado para o escritor e editor, Carlos Schroeder.
Ao outro dia Flávio também me escreveu e completou aquele “estado” que a Regininha tinha retratado:
“...ainda sob os efeitos da ótima experiência em Rio do Sul, quando estudantes, professores e o pessoal da Unimed me acolheram com uma simpatia pra lá de generosa, venho agradecer de uma forma especial a tua disponibilidade comigo, possibilitando um bate-papo do qual vou guardar a melhor lembrança. Certamente teríamos muito a conversar (e a rir) se o tempo fosse maior. Não vai faltar oportunidade para a continuação do diálogo. Mandei ao Schroeder e à Regininha os meus parabéns pela qualidade do amigo que eles têm aí. À tarde, sigo para Tubarão (e depois para Criciúma), cumprindo mais uma etapa do Encontro Marcado. Botei na mala as tuas aproximações de Borges. Abri os Escritos do Gabriel e gostei. Tem a substância que eu bem previa...”.
O que responder? Como ficar? Como agradecer? Bom, tentei no e-mail. Não sei se consegui...
Neste sábado, quando abri minha caixa postal, a grata surpresa de uma nova mensagem do nosso imortal... Li num dos seus trechos:
“...escrevo para dizer que a leitura do livro que gentilmente me deste ("um pouco de Borges, que tanto já fez por nós dois", botaste na dedicatória) me deu um grande prazer. Eu sabia que ia dar um grande prazer, pois confiava nos que falam bem da tua imaginação e da tua linguagem. Há momentos na leitura que ressalto especialmente - "Erótico", "Buenos Aires (Goofus Bird)", "Premonição", o triste "Desaparecido", sem falar, é claro, no ensaio "Escritor apócrifo de leitores reais". E há outros mais, como o poema "Infidelidade", as "10 pequenas ficções"... É muito bom ler quem sabe inventar e dizer e tem na cabeça uma cultura literária que refina a obra e, sem exibicionismo, é sempre reveladora...”
Claro que sua generosidade falou mais alto e eu agradeci por isso...
E assim como respondi, estou feliz, é isso é um estado de ânimo (não sinto vergonha de dizer), proporcionado por surpresas como esta.
Muito obrigado Flávio!
Espero continuar correspondendo... Espero que nossa amizade cresça... E que nós, por cima de todas as coisas, cresçamos juntos com ela.

--------------------------------------------
O Escritor FLÁVIO JOSÉ CARDOZO
Nasceu em Lauro Müller, SC, aos 2 de novembro de 1938. Jornalista. Professor. Funcionário Público. Escritor. Pertence à Academia Catarinense de Letras e a várias outras instituições culturais do estado e do país.
Projetou-se, inicialmente, com livros de contos: Singradura (1970, 2 ed. 2002); Zélica e Outros (1978. 2 ed. 2001); Longínquas Baleias (1986). A partir do final da década de 1970 passou a escrever crônicas, quase diariamente, tornando-se o número 1 da crônica no Estado. Muitas delas estão reunidas em livros: Água do Pote (1982); Beco da Lamparina (1987); Tiroteio Depois do Filme (1980): Senhora do Meu Desterro (1991); Trololó para Flauta e Cavaquinho (1999); Uns Papéis que Vvoam (2003).
Incursionou pela literatura infanto-juvenil com O Tesouro da Serra do Bem-bem (2004) e, finalmente, retornou à terra e época em que nasceu, para retratar os mineiros do carvão nas narrativas – romance aberto – Guatá (2005). Publicou ainda Sobre Sete Viventes (1985).

sábado, 25 de setembro de 2010

Feira do Livro surpreende organizadores

Pausa para um café... Carlos Schroeder, Sandra Vieira, Gabriel Gómez e Moacyr Scliar.

Após a palestra... Ivo Ferrari (Associação dos Escritores do Alto Vale), Moacyr Scliar, Tânia Moratelli (AMAVI), Dianalice Lodi Ribeiro (SESC Rio do Sul), Gabriel Gómez.

Do jornal A Cidade:

As milhares de pessoas que passaram pela Praça Ermembergo Pellizzetti entre os dias 16 e 23 de setembro, em Rio do Sul, puderam respirar cultura. A 1ª Edição da Feira do Livro do Alto Vale do Itajaí foi considerada sucesso absoluto em público e vendas. Segundo estimativa do proprietário da Livraria Ilha Mágica, José Vilmar Silva, cerca de 30 mil obras foram vendidas até quinta-feira (23), pela manhã. Os visitantes puderam encontrar nas estantes livros de todos os gêneros literários, com valores a partir de R$ 1,00. “O sucesso foi tanto, que resolvemos prorrogar a Feira até sábado (25), às 16h”.
De acordo com Ivo Ferrari, presidente da Associação dos Escritores do Alto Vale do Itajaí, “com certeza mais de 8 mil pessoas visitaram a feira nesses sete dias, superando a expectativa da organização”. Ferrari comenta que para a Feira se tornar referência no Estado, deve-se “somar o setor público com o privado, afinal, pouco se consegue quando a cultura é tratada como ilhas”.
O organizador ressalta a importância da população do Alto Vale entender que a sua cultura é forte, nas artes, na literatura, nas danças, no teatro. “Temos muito mais para mostrar do que já foi apresentado”.
O SESC – Rio do Sul foi outro grande parceiro na realização do evento. De acordo com a coordenadora de cultura da entidade, Dianalice Lodi Ribeiro, “contamos com a grande participação do público escolar, bem como o público diversificado nas apresentações dos espetáculos. A Feira foi um sucesso, mesmo com o tempo chuvoso dos últimos dias. Essa mobilização literária é realmente um diferencial importante para fomentar a cultura na região”.
Para Gabriel Fernando Gómez, escritor riossulense, patrono da Feira e homenageado da Associação dos Escritores do Alto Vale do Itajaí “o evento superou nossas expectativas. Com certeza ganhamos muita força para proporcionar um evento literário com maiores proporções em 2011”. A escolha do escritor para ser patrono da 1ª Feira do Livro foi unânime entre os organizadores.
A realização do evento só foi possível graças ao apoio da Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí (AMAVI), SESC – Rio do Sul, Edutranec e Associação dos Escritores do Alto Vale do Itajaí. Importantes parceiros, como a Câmara de Vereadores e Fundação Cultural de Rio do Sul proporcionaram a região do Alto Vale, um evento diferente, mostrando que a cultura tem seu espaço, só resta saber explora-lo.
Para a futura nova edição, vendo o sucesso desta primeira aposta literária, diversos novos parceiros já entraram em contato com os organizadores para confirmar sua presença.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Poema bilingue


No duermo.

En la oscuridad
imagino lo que no
quiero que exista.
En ella,
la noche nunca termina,
las camas navegan
pero despiertan amarradas,
las cobijas andan
calle abajo,
los espejos reflejan
de ojos cerrados,
el cielo
se mide por ausencias.

Digo hasta mañana
y no paro
de morder las letras
de tu nombre.

------------------

Não durmo.

Na escuridão
imagino o que não
quero que exista.
Nela,
a noite nunca termina,
as camas navegam
mas acordam amarradas,
os lençóis andam
rua abaixo,
os espelhos refletem
de olhos fechados,
o céu
se mede pelas ausências.

Digo até amanhã
e não paro
de morder as letras
do teu nome.

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Assim


Assim.
A poesia
começaria
assim,
num céu
de papel
claro como este
(que conseguiria
descrever
tão bem
por nunca ter
estado nele).
E um espantalho,
que não assusta,
querendo voar
por ser dia
de folga.
E canta,
canta,
repartindo
o canto.
Inventando
galhos
e mãos
que pedem,
esperam,
e escolhem
pássaros
que dormem
cansados.
E terminaria
aqui,
bem aqui,
com um sol
que desce,
desce,
e olha
entreaberto,
esperando
sua leitura,
para depois
ocultar-se
lentamente,
como pálpebras
que caem
e deitam,
no horizonte
da página.


domingo, 19 de setembro de 2010

Homenagem da Associação de Escritores na Feira do Livro


Sexta-feira foi quando os organizadores da Feira do Livro do Alto Vale do Itajaí (AMAVI, Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí, SESC Rio do Sul, EDUTRANEC e a Associação dos Escritores), homenagearam este escritor e patrono. Muitas palavras de reconhecimento, abraços e carinho. O pavilhão ficou lotado por estudantes de jornalismo, alunos da oficina de escritores, autoridades e visitantes.
Fiquei muito orgulhoso por mais esta honra.

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Emprestar ou não emprestar um livro? Eis a questão


"O poeta e escritor Gabriel Gomez, autor de Borges e outras Ficções (2008), em sua obra “A culpa é do livro”, uma coletânea de dez narrativas deliciosas, cada uma contando uma história muito própria com relação a algum livro (a culpa por qualquer coisa é sempre do livro), em uma delas conta que se costumava escrever nos livros uma maldição para aquele que por ventura ousasse colocar as mãos no seu livro (“A quem furtar um livro da minha biblioteca, que se transforme em uma serpente em suas mãos e o subjugue, que seja atacado por paralisia e todos os seus membros sejam amaldiçoados. Que agonize em dor, gritando por perdão. Que não haja descanso para sua agonia, até que se afunde na dissolução. Que os vermes dos livros roam suas entranhas…”). Gomez mostra que cada livro tem para cada leitor uma importância visceral, formando, ambos, quase uma amalgama. Escreve ele em uma das narrativas (O bilhete perdido): “Cultivei o ato da leitura sabendo que nenhum livro é o primeiro, e nenhum é o último. Sempre percebi que formar uma biblioteca é um ato de criação; assim, como considero livros o principal instrumento da imaginação, não os leio tentando aprisionar o superficial. Todos esses livros são, para mim, companheiros vivos, que sorriem, choram, abusam, formam, acalentam, respiram. Minha surrada colcha de retalhos literários. Convivem pacificamente entre novos e velhos, lidos e esquecidos, clássicos e anônimos e valem pela satisfação que provocam em quem os têm nas mãos. Eu os sinto todos ligados a mim por laços invisíveis e remotos”. É a pura verdade, e como emprestar para alguém algo assim?"


Trecho do texto da jornalista Kelly de Souza, colaboradora da Revista da Cultura e Blog da Cultura. Leia o texto completo (e seus comentários) AQUI.

(Obrigado Kelly...!)

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Entrevistas divulgando a Feira do Livro do Alto Vale

Responsáveis pela organização da Feira do Livro do Alto Vale

Entrevista a RSTV

Mesa redonda na TV BA

Entrevista RIC Record

Entrevista rádio Unidavi FM e Jornal Folha do Alto Vale
(Fotos: jornalista Rafael Beling)

O primeiro dia da Feira do Livro do Alto Vale foi de entrevistas, agradecimentos e muita divulgação para que ela se afirme no calendário cultural da nossa região. A semente está plantada...
Muito público e estudantes prestigiando. Ainda nesta quinta-feira, 19h, haverá uma homenagem a este servidor, por parte da Associação dos Escritores do Alto Vale.
Nesta sexta terá o encontro dos escritores Maicon Tenfen e Carlos Scrhoeder.
Ser seu patrono é, principalmente, representar uma classe com muito orgulho.
A leitura de um bom livro não é um eterno e incessante diálogo? O livro fala e a alma responde... Teremos uma semana de muitos diálogos por aqui.
Que bom!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Feira do Livro do Alto Vale inicia nesta quinta

(Do relesse oficial)

O escritor Gabriel Gómez será o patrono da feira que terá como convidados Moacyr Scliar, Maicon Tenfen e Carlos Henrique Schroeder.


De 16 a 23 de setembro a cidade de Rio do Sul sedia a primeira edição da Feira do Livro do Alto Vale do Itajaí. A abertura oficial acontece às 9h do dia 16, na praça Ermembergo Pellizzetti (local da feira), com acesso livre. A Feira será um espaço onde a leitura e o livro pedem passagem, com contação de histórias, palestras e livros a partir de um real. De Florianópolis, a Livraria Ilha Mágica trará os grandes best sellers e livros que são sucessos de público e crítica, de Balneário Camboríu, a Top Livros traz livros com valores a partir de R$ 1,00, e o mesmo feito promete o estande da Sociedade Amigos do Livro, que vem lá do Rio Grande do Sul com livros para crianças e adolescentes.
Cerca de quinze estandes, divididos entre seis expositores vão trazer a magia da literatura para a praça Ermembergo Pellizzetti, no centro de Rio do Sul. A realização da Feira é da AMAVI – Associação dos Municípios do Alto Vale do Itajaí, SESC Rio do Sul, Associação dos Escritores do Alto Vale do Itajaí e Edutranec, com apoio da Câmara de Vereadores de Rio do Sul e da Fundação Cultural de Rio do Sul.
O patrono da Feira é o escritor Gabriel Gómez, por sua contribuição à literatura do vale, e o autor homenageado é Machado de Assis, maior escritor brasileiro. A estimativa de público é de 20.000 visitantes e que 35.000 livros sejam comercializados.

Veja a programação completa AQUI.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Nada me sobrevive


Quero chorar porque tenho vontade
como choram os meninos do último banco,
porque eu não sou um homem, nem um poeta, nem uma folha,
mas um pulso ferido que sonda as coisas do outro lado.

Poema Duplo de Lago Edem – Federico Garcia Lorca.


É melhor não entender
agora teu silêncio
de plantas crescendo,
de letras na água
que ninguém junta,
que todo transpassa,
desborda, transparente.

Sem pressa.

É melhor não saber
que ainda ouço tua falta,
que escolho o lugar do corte
onde se filtra a vida.
Que este número
de abandono está grande.
Que inventei um alfabeto
que não consigo falar.

Pausadamente.

É melhor não ver
quantas palavras
sem forma
ainda estão nas mãos
afundadas no tato,
raspando o lábio,
pressas, que aperto
em volta da garganta...

Devagar, devagar.

Nada me sobrevive.
Nem o titulo daquele filme
que nunca vimos:
Não morras sem
me dizer
onde vais.

O cheiro destas flores
chega fétido ao céu
.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

Danço como se estivesse sozinho


Cheiro de casa
sem ninguém...
Os mapas mudam,
os puzzles se encaixam
do avesso
e as feridas cantam
porque já perdoaram.
Danço como se
estivesse sozinho.
O cachorro
embaixo da mesa
olha espantado
meu corpo em trânsito
em volta do vazio.

Veja,
nossas paredes
não tinham ouvidos.

Vale o contrário.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Privadas palavras


(Hoje viajo para Argentina, enquanto isso, deixo um poeminha...)

Abri as torneiras
de privadas palavras,
de cor ferrugem,
esquecidas,
sem ar.

Uma a uma
se perdem
de costas
pelo ralo.

Para que escrevê-las?

Já alcança
vê-las cair,
prolongadas
nos respingos
da tua ausência.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails