ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Adeus à metáfora do livro

- Se o senhor fosse fazer uma redação sobre o melhor lugar do mundo, que lugar o senhor descreveria?

- Uma biblioteca.


Pergunta e resposta final da entrevista de "Verso e Prosa", a José Mindlin, bibliógrafo e integrante da ABL (Academia Brasileira de Letras), que faleceu neste domingo aos 95 anos.

Nossa pequena homenagem a um dos maiores colecionadores e amante de livros do Brasil .

As certezas e as palavras

O caderno "Ideias e Livros" do Jornal do Brasil divulga o último livro do nosso escritor (e editor) Carlos Schroeder, "As certezas e as palavras"... Clique para ampliar e se orgulhar de nossa literatura catarinense...
E para o "grande finale", leia
AQUI no caderno ideias (caderno cultural) do jornal a notícia, texto do amigo ítalo Puccini sobre este novo livro.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

O que um poeta não vê não aconteceu

  • O poeta deve ser aquele que percebe o que já aconteceu para antecipar aquilo que será. Portanto, não sofre realmente, apenas se lembra; e não faz nada, porque ainda o precisa predizer.
  • O que mais prezo no verdadeiro poeta é aquilo que ele, por soberba, omite.
  • O que um poeta não vê não aconteceu.
  • Eu não sou poeta, pois não sei calar. Mas muitas pessoas dentro de mim – que eu não conheço – calam. Suas irrupções eventuais me tornam um poeta.
  • Nada se compara às palavras, sua deturpação me tortura como se fossem criaturas sensíveis à dor. Um escritor que não sabe disso é, para mim, um ser incompreensível.
  • Sem a desordem da leitura não existe poeta.
  • Se os poetas não se apoiarem entre si – o que restará deles?

    Trecho do livro “Sobre escritores”, de Elias Canetti (1905 - 1994) Prêmio Nobel de Literatura 1981.

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Poemas dos outros

Realidade

Lembrem-se,

os objetos no espelho estão,
na realidade,
atrás de você.


(Aviso em um espelho montado num capacete americano para ciclistas)
Veja AQUI qual é a proposta dos "Poemas dos outros"

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Decálogo do autor

Por Miguel Sanches Neto (revista entre-livros)

Depois de leitor, você pode se tornar, então, escritor– embora, pasme, muitos hoje pulem a leitura, por julgá-la dispensável, e já desejem publicar

I - Não fique mandando seus originais para todo mundo.Acontece que você escreve para ser lido extramuros, e deseja testar sua obra num terreno mais neutro. E não quer ficar a vida inteira escrevendo apenas para uma pessoa. O que fazer então para não virar um chato? No passado, eu aconselharia mandar os textos para jornais e revistas literárias, foi o que eu fiz quando era um iniciante bem iniciante. Mas os jovens agora têm uma arma mais democrática. Publicar na internet. Há muitos espaços coletivos, uma liberdade de inclusão de textos novos e você ainda pode criar seu próprio site ou blog, mas cuidado para não incomodar as pessoas, enviando mensagens e avisos para que leiam você.

II - Publique seus textos em sites e blogs e deixe que sigam o rumo deles. Depois de um tempo publicando eletronicamente, você vai encontrar alguns leitores. Terá de ler os textos deles, e dar opiniões e fazer sugestões, mas também receberá muitas dicas.

III - Leia os contemporâneos, até para saber onde é o seu lugar. Existe um batalhão de internautas ávidos por leitura e em alguns casos você atingirá o alvo e terá acontecido a magia de um texto encontrar a pessoa que o justifica. Mas todo texto escrito na internet sonha um dia virar livro. Sites e blogs são etapas, exercícios de aquecimento. Só o livro impresso dá status autoral. O que fazer quando eu tiver mais de dois gigas de textos literários? Está na hora de publicar um livro maior do que Em busca do tempo perdido? Bem, é nesse momento que você pode continuar sendo um escritor iniciante comum ou subir à categoria de iniciante com experiência. Você terá que reduzir essas centenas e centenas de páginas a um formato razoável, que não tome muito tempo de leitura de quem, eventualmente, se interessar por um livro de estréia. Para isso,
você terá de ser impiedoso, esquecer os elogios da mulher e dos amigos e selecionar seu produto, trabalhando duro para que fique sempre melhor.

IV - Considere apenas uma pequenina parte de toda a sua produção inicial, e invista na revisão dela, sabendo que revisar é cortar. O livro está pronto. Não tem mais do que 200 páginas, você dedicou anos a ele e ainda continua um iniciante. Mas um iniciante responsável, pois não mandou logo imprimir suas obras completas com não sei quantos tomos, logo você que talvez nem tenha completado 30 anos. Mas você quer fazer circular a sua literatura de maneira mais formal. Quer o livro impresso. E isso é hoje muito fácil. Você conhece um amigo que conhece uma gráfica digital que faz pequenas tiragens e parcela em tantas vezes. O livro está pronto. E anda sobrando um dinheirinho, é só economizar na cerveja.

V - Gaste todo seu dinheiro extra em cerveja, viagens, restaurantes e não pague a publicação do próprio livro. Se você fizer isso, ficará novamente ansioso para mandar a todo mundo o volume, esperando opiniões que vão comparar o seu trabalho ao dos mestres. O livro impresso, mesmo quando auto-impresso, dá esta sensação de poder. Somos enfim Autores. E podemos montar frases assim: Borges e eu valorizamos o universal. Do ponto de vista técnico, Borges e eu estamos no mesmo nível: produzimos obras impressas; mas a comparação não vai adiante. Então como publicar o primeiro livro se não conhecemos ninguém nas editoras? E aí começa um outro problema: procurar pessoas bem postas em editoras e solicitar apresentações. Na maioria das vezes isso não funciona. E, mesmo quando o livro é publicado, ele não acontece, pois foi um movimento artificial.

VI - Nunca peça a ninguém para indicar o seu livro a uma editora. Se por acaso um amigo conhece e gosta de seu trabalho, ele vai fazer isso naturalmente, com alguma chance de sucesso. Tente fazer tudo sozinho, como se não tivesse ninguém mais para ajudar você do que o seu próprio livro. Sim, este livro em que você colocou todas as suas fichas. E como você só pode contar com ele...

VII - Mande seu livro a todos os concursos possíveis e a editoras bem escolhidas, pois cada uma tem seu perfil editorial. É melhor gastar seu dinheiro com selos e fotocópias do que com a impressão de uma obra que não será distribuída e que terá de ser enviada a quem não a solicitou. Enquanto isso, dedique-se a atividades afins para controlar a ansiedade, porque essas coisas de literatura demoram, demoram muito mesmo. Você pode traduzir textos literários para consumo próprio ou para jornais e revistas, pode fazer resenhas de obras marcantes, ler os clássicos ou simplesmente manter um diário íntimo. O importante é se ocupar. Com sorte e tendo o livro alguma qualidade além de ter custado tanto esforço, ele acaba publicado. Até o meu terminou publicado, e foi quando me tornei um iniciante adulto. Tinha um livro de ficção no catálogo de uma grande editora. E aí tive de aprender outras coisas. Há centenas de livros de iniciantes chegando aos jornais e revistas para resenhas e uma quantidade muito maior de títulos consagrados. E a maioria vai ficar sem espaço nos jornais. E é natural que os exemplares distribuídos para a imprensa acabem nos sebos, pois não há resenhistas para tantas obras.

VIII - Não force os amigos e conhecidos a escrever sobre seu livro. Não quer dizer que eles não possam escrever, podem sim, mas mande o livro e, se eles não acusarem recebimento ou não comentarem mais o assunto, esqueça e não lhes queira mal, eles são nossos amigos mesmo não gostando do que escrevemos. Se um ou outro amigo escrever sobre o livro, festeje mesmo se ele não entender nada ou valorizar coisas que não julgamos relevantes em nosso trabalho. E mande umas palavras de agradecimento, pois você teve enfim uma apreciação. E se um amigo escrever mal de nosso livro, justamente dessa obra que nos custou tanto? Se for um desconhecido, ainda vá lá, mas um amigo, aquele amigo para quem você fez isso e aquilo.

IX - Nunca passe recibo às críticas negativas. Ao publicar você se torna uma pessoa pública. E deve absorver todas as opiniões, inclusive os elogios equivocados. Deixe que as opiniões se formem em torno de seu trabalho, e talvez a verdade suplante os equívocos, principalmente se a verdade for que nosso trabalho não é lá essas coisas. O livro está publicado, você já pensa no próximo, saíram algumas resenhas, umas superficiais, outras negativas, uma muito correta. Você é então um iniciante com um currículo mínimo. Daí você recebe a prestação de contas da editora, dizendo que, no primeiro trimestre, as devoluções foram maiores do que as vendas. Como isso é possível? Vejam quantos livros a editora mandou de cortesia. Eu não posso ter vendido apenas 238 exemplares se, só no lançamento, vendi 100, o gerente da livraria até elogiou – enfim uma vantagem de ter família grande.

X - Evite reclamar de sua editora. Uma editora não existe para reverenciar nosso talento a toda hora. É uma empresa que busca o lucro, que tem dezenas de autores iguais a nós e que quer ter lucro com nosso livro, sendo a primeira prejudicada quando ele não vende. Não precisamos dizer que é a melhor editora do mundo só porque nos editou, mas é bom pensar que ocorreu uma aposta conjunta e que não se alcançou o resultado esperado. Mas que há oportunidades para outras apostas e, um dia, quem sabe... Foi tentando seguir estas regras que consegui ser o autor iniciante que hoje eu sou.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Vozes

- Abre-se uma porta para mim, entro e acho cem portas fechadas.
- Creio que são os males da alma, a alma. Porque a alma que se cura de seus males, morre.
- Encontrarás a distância que te separa deles, unindo-se a eles.
- Cem homens, juntos, são a centésima parte de um homem.
- Quando o superficial me cansa, me cansa tanto, que para descansar preciso de um abismo.
- O mal não o fazem todos, mas acusa a todos.
- Quem não enche seu mundo de fantasmas, fica só.
- Uma coisa, até não ser inteira, é ruído, e inteira, é silêncio.
- Não, não entro. Porque se eu entrar não há ninguém.
- Sim, são milhões de estrelas. E milhões de estrelas são dois olhos que as fitam.
- Falo pensando que não devia falar: assim falo.
- Às vezes, de noite, acendo uma luz para não ver.
- Como me fiz, não voltaria a me fazer. Talvez voltaria a me fazer como me desfaço.
- És o que necessitam de ti, não o que és.
- Posso não olhar as flores, mas não quando ninguém as olha.
- Parta-se de qualquer ponto. Todos são iguais. Todos levam a um ponto de partida.
- Te amo como és, mas não me digas como és.
- Quando não se quer o impossível, não se quer.
- Ferir o coração é criá-lo.
- O medo da separação é tudo o que une.
- Se me esquecesse do que não fui me esqueceria de mim.
- Iria ao paraíso, mas com meu inferno; sozinho, não.
- Fui para mim, discípulo e mestre. E fui um bom discípulo, mas um mau mestre.
- O amor, quando cabe numa única flor, é infinito.
- O homem igualaria seu digno mestre se, ao fazer sua obra, fizesse também o inferno para sua obra.
- Eu pediria algo mais a este mundo, se tivesse algo mais este mundo.
O poeta Antonio Porchia nasceu em 1886 em Italia, mas é considerado argentino pois passou a maior parte da vida em Buenos Aires. Chegou ao país em 1901 e sua única obra "Vozes", publicada em 1943, compõe-se de frases ou pequenos poemas de difícil classificação. Após sua primeira publicação, uma edição de mil exemplares, custeada pelo próprio autor, foi descoberto na casa de Victoria Ocampo por Roger Caillois (tradutor e amigo de Borges) em 1949, e começou a despertar o interesse da crítica argentina após ser publicado na França.
O escritor Cesar Aira cita sua obra (e a compara) no livro publicado sobre Alejandra Pizarnik.
Porchia morreu em 1968 e até agora poucos conhecem seu nome e obra. Com esta pequena homenagem pretendo ir na contra-mão deste esquecimento imerecido.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Diário


- Gostaria de poder ler um trecho daquilo que escrevi no meu diário – disse
- Nunca soube que você levasse um diário. Alias, sempre pensei que colecionasse cadernos escritos em branco. Embora tenha lido e gostado de algumas páginas e reprovado outras, não concordaria em conhecer suas intimidades, já que as tenho lido e não gostei.
- É verdade. Nunca escrevi um diário e nunca o faria, por isso gostaria de poder lê-lo. Quer ouvir?
- Sim, mas com a condição que leia só as páginas em branco.
- Está pedindo-me o impossível. Justamente essas são as mais íntimas, daí o motivo de ter apenas páginas sem nenhuma palavra.
- [...]
- [...]
- [...]
- [...]
- Realmente são bastante reservadas e pelo trecho que acabou de não ler, indiscretas.
- É, por isso nunca as escrevi.
- Concordo. Mesmo assim deveria queimar todas pelas dúvidas de alguém tentar fazê-lo.
- Já o fiz.
- Mas se acabou de não lê-las!
- Não o tinha feito enquanto o fazia.
- Fez bem então. É por isso que não gosto de diários e nunca escreveria um.
- Eu também não.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"Os poetas não falam a mesma lingua de todo mundo..."

“No século 21, agora solidamente estabelecido, a poesia continua a perder espaço. (...) Essa situação é uma conseqüência da quase inexistência econômica da poesia, pelo menos dessa que se escreve atualmente. A poesia não se vende e, portanto, não tem mais importância. A poesia não tem mais importância e, portanto, não se vende. É claro que esse gênero literário não é o único que perdeu fatias de mercado na cena cultural contemporânea. O romance, a literatura em geral e o próprio livro foram afetados. Mas, no caso da poesia, estamos diante de uma forma extrema de desaparecimento.
Há quase um século, e com uma obstinação tocante, a responsabilidade por tal circunstância (o desaparecimento da poesia) é atribuída aos próprios poetas. Expõe-se uma série de acusações para explicar e justificar a desafeição comercial: os poetas contemporâneos são difíceis, elitistas, a poesia é uma atividade fora de moda e ultrapassada. Os poetas são narcisistas, não se dão conta do que realmente acontece no mundo, não intervêm para libertar reféns ou para lutar contra o terrorismo, não fazem diminuir a desigualdade social, não se mobilizam para salvar o planeta e não falam a mesma língua de todo mundo. Eis por que não os lemos. Eles mesmos são os culpados por isso.”

Texto do poeta, romancista e matemático Jacques Roubaud, no número de janeiro do "Le Monde Diplomatique Brasil", citado no texto FIM DO PAPEL, FIM DA POESIA, na última edição do jornal literário “Rascunho”.
Será que chegamos ao tempo, como aponta o referido texto, de poetas escrevendo "difícil" para poetas e sendo lidos, entendidos (?), apenas por poetas?
A foto que ilustra o texto é de nosso saudoso Lindolf Bell e sua Catequese poética na praça.
Belo e necessário debate...

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

HILDA HILST E ALEJANDRA PIZARNIK: PASSEIOS POÉTICOS CORPÓREOS


Achei muito interessante o texto da professora Joelma Rodrigues da Universidade Federal de Pernambuco, onde compara a literatura de duas escritoras que sentiram (e escreveram) sua poesia de forma total, completa, "corporal".
Sou leitor de Alejandra e Hilda Hilst e gostei da sua analise e proximidade...

"Andando pelas ruas escuras de Londres, pisava Sylvia Plath sobre folhas adormecidas no frio. O barulho não era o mesmo do verão passado quando tilintavam pássaros buscando os restos de comida deixados pelos turistas. Restava à poeta apenas o corpo barulhando com o vento e o silêncio. E corpo que barulha com o vento e o silêncio é poesia. Sylvia Plath fazia poesia nas madrugadas inglesas, e a fazia com o corpo. Seriam seus ossos, sangue e carne o sustento do corpo, como são as imagens, delírios e milagres varadouro da poesia?
Em meados do século passado duas poetas latino-americanas, Hilda Hilst e Alejandra Pizarnik, pareceram querer responder à questão levantada por Plath em suas folhas. Em dois trabalhos importantes intitulados Do desejo (1992) e Árbol de Diana (1962), inscreveram a primeira e segunda autoras, respectivamente, as marcas do corpo na poesia.
O Corpo, nos versos de Hilda e Alejandra, representa uma espécie de corredor onde imagens e sensações saem e retornam continuamente. É um corpo vivo que expele secreções do gozo do sexo e da linguagem; é um corpo-vislumbre que mesmo silencioso se comunica: “yo me he unido al silencio/ y me dejo hacer/ me dejo beber/ me dejo decir”. É um corpo que se ritma por sensações e cores - nos versos de Pizarnik há muitas referências à luz, sombras, transparências e medos: “más allá de cualquier zona prohibida/ hay um espejo para nuestra triste transparencia” –, tão concretas como a boca e o tato: ”colada à tua boca, mas descomedida/ Árdua/ Construtor de ilusões examino-te sôfrega”.
De modo geral, há boca, sangue, pele, rostos, coração, cérebro, sexo, dedos, ossos, carne, olhos. Para além de simples palavras que definem partes do corpo humano, há uma salada significante onde o delírio poético transgride o corpo como máquina, cartesiano e funcional, para o corpo cósmico, que é trágico – “e fodes como quem morre a última conquista” – e lírico – “com el silencio de su sangre/ la noche bebió vino/ y bailo desnuda entre los huesos de la niebla”. O caráter cósmico do corpo em Do desejo e Árbol de Diana tem sua aferição no sentido que lhe deu Gaston Bachelard, no alferes do devaneio: “fenômeno da solidão, um fenômeno que tem sua raiz na alma do sonhador” (BACHELARD, Gaston, 1988, p.13-4).
O corpo que se torna matéria cósmica na poesia é fruto do sonho do poeta, é o meio processual pelo qual atravessam as sensações e o desejo de comunicação com o mundo. Assim, se a poesia imprescinde do delírio, também o faz com o corpo. Seja transporte do sonho, casulo de inspiração ou objeto de transpiração, o corpo é inevitável."


Leia o texto completo AQUI.

terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Decálogo do leitor

Por Alberto Mussa (Revista Entre Livros)

I - Nunca leia por hábito: um livro não é uma escova de dentes. Leia por vício, leia por dependência química. A literatura é a possibilidade de viver vidas múltiplas, em algumas horas. E tem até finalidades práticas: amplia a compreensão do mundo, permite a aquisição de conhecimentos objetivos, aprimora a capacidade de expressão, reduz os batimentos cardíacos, diminui a ansiedade, aumenta a libido. Mas é essencialmente lúdica, é essencialmente inútil, como devem ser as coisas que nos dão prazer.

II - Comece a ler desde cedo, se puder. Ou pelo menos comece. E pelos clássicos, pelos consensuais. Serão cinqüenta, serão cem. Não devem faltar As mil e uma noites, Dostoiévski, Thomas Mann, Balzac, Adonias, Conrad, Jorge de Lima, Poe, García Márquez, Cervantes, Alencar, Camões, Dumas, Dante, Shakespeare, Wassermann, Melville, Flaubert, Graciliano, Borges, Tchekhov, Sófocles, Machado, Schnitzler, Carpentier, Calvino, Rosa, Eça, Perec, Roa Bastos, Onetti, Boccaccio, Jorge Amado, Benedetti, Pessoa, Kafka, Bioy Casares, Asturias, Callado,Rulfo, Nelson Rodrigues, Lorca, Homero, Lima Barreto, Cortázar, Goethe, Voltaire, Emily Brontë, Sade, Arregui, Verissimo, Bowles, Faulkner, Maupassant, Tolstói, Proust, Autran Dourado, Hugo, Zweig, Saer, Kadaré, Márai, Henry James, Castro Alves.

III - Nunca leia sem dicionário. Se estiver lendo deitado, ou num ônibus, ou na praia, ou em qualquer outra situação imprópria, anote as palavras que você não conhece, para consultar depois. Elas nunca são escritas por acaso.

IV - Perca menos tempo diante do computador, da televisão, dos jornais e crie um sistema de leitura, estabeleça metas. Se puder ler um livro por mês, dos 16 aos 75 anos, terá lido 720 livros. Se, no mês das férias, em vez de um, puder ler quatro, chegará nos 900. Com dois por mês, serão 1.440. À razão de um por semana, alcançará 3.120. Com a média ideal de três por semana, serão 9.360. Serão apenas 9.360. É importante escolher bem o que você vai ler.

V - Faça do livro um objeto pessoal, um objeto íntimo. Escreva nele; assinale as frases marcantes, as passagens que o emocionam. Também é importante criticar o autor, apontar falhas e inverossimilhanças. Anote telefones e endereços de pessoas proibidas, faça cálculos nas inúteis páginas finais. O livro é o mais interativo dos objetos. Você pode avançar e recuar, folheando, com mais comodidade e rapidez que mexendo em teclados ou cursores de tela. O livro vai com você ao banheiro e à cama. Vai com você de metrô, de ônibus, e de táxi. Vai com você para outros países. Há apenas duas regras básicas: use lápis; e não empreste.

VI - Não se deixe dominar pelo complexo de vira-lata. Leia muito, leia sempre a literatura brasileira. Ela está entre as grandes. Temos o maior escritor do século XIX, que foi Machado de Assis; e um dos cinco maiores do século XX, que foram Borges, Perec, Kafka, Bioy Casares e Guimarães Rosa. Temos um dos quatro maiores épicos ocidentais, que foram Homero, Dante, Camões e Jorge de Lima. E temos um dos três maiores dramaturgos de todos os tempos, que foram Sófocles, Shakespeare e Nelson Rodrigues.

VII - Na natureza, são as espécies muito adaptadas ao próprio hábitat que tendem mais rapidamente à extinção. Prefira a literatura brasileira, mas faça viagens regulares. Das letras européias e da América do Norte vem a maioria dos nossos grandes mestres. A literatura hispano-americana é simplesmente indispensável. Particularmente os argentinos. Mas busque também o diferente: há grandezas literárias na África e na Ásia. Impossível desconhecer Angola, Moçambique e Cabo Verde. Volte também ao passado: à Idade Média, ao mundo árabe, aos clássicos gregos e latinos. E não esqueça o Oriente; não esqueça que literatura nenhuma se compara às da Índia e às da China. E chegue, finalmente, às mitologias dos povos ágrafos, mergulhe na poesia selvagem. São eles que estão na origem disso tudo; é por causa deles que estamos aqui.

VIII - Tente evitar a repetição dos mesmos gêneros, dos mesmos temas, dos mesmos estilos, dos mesmos autores. A grande literatura está espalhada por romances, contos, crônicas, poemas e peças de teatro. Nenhum gênero é, em tese, superior a outro. Não se preocupe, aliás, com o conceito de gênero: história, filosofia, etnologia, memórias, viagens, reportagem, divulgação científica, auto-ajuda – tudo isso pode ser literatura. Um bom livro tem de ser inteligente, bem escrito e capaz de provocar alguma espécie de emoção.

IX - A vida tem outras coisas muito boas. Por isso, não tenha pena de abandonar pelo meio os livros desinteressantes. O leitor experiente desenvolve a capacidade de perceber logo, em no máximo 30 páginas, se um livro será bom ou mau. Só não diga que um livro é ruim antes de ler pelo menos algumas linhas: nada pode ser tão estúpido quanto o preconceito.

X - Forme seu próprio cânone. Se não gostar de um clássico, não se sinta menos inteligente. Não se intimide quando um especialista diz que determinado autor é um gênio, e que o livro do gênio é historicamente fundamental. O fato de uma obra ser ou não importante é problema que tange a críticos; talvez a escritores. Não leve nenhum deles a sério; não leve a literatura a sério; não leve a vida a sério. E faça o seu próprio decálogo: neste momento, você será um leitor.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Dois tipos de escritores...


Existem dois tipos de escritores:

Os que querem ser escritores e os que querem escrever.


(Andres Rivera, escritor argentino.)

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Um poema de Olga Orozco

PARA FAZER UM TALISMÃ

Basta o teu coração
feito à viva imagem de teu demônio ou de teu deus.
Um coração apenas, como um crisol com brasas para a
idolatria.
Nada mais do que um indefeso coração enamorado.
Deixe-o na intempérie,
onde a erva entoa suas endechas de ama louca
e não possa dormir,
onde o vento e a chuva deixem cair seu látego em um golpe
de azul calafrio
sem convertê-lo em mármore e sem parti-lo em dois,
onde a escuridão abra suas tocas a todas as matilhas
e não consiga esquecer.
Jogue-o depois do alto de seu amor ao fervedouro da
bruma.
Ponha-o logo a secar no surdo regaço da pedra,
e escave, escave-o com uma agulha fria até arrancar o
último grão de esperança.
Deixe que o sufoquem as febres e a urtiga,
que o sacuda o trote ritual da alimária,
que o envolva a injúria feita com os retalhos de suas
antigas glórias.
Ou quando um dia um ano o aprisione com as garras de um século,
antes que seja tarde,
antes que se converta em múmia deslumbrante,
abra de par em par e uma por todas as suas feridas:
que as exiba ao sol da piedade, tal qual o mendigo,
que expõe seu delírio no deserto,
até que somente o eco de um nome cresça nele com a fúria
da fome:
uma incessante colherada contra o prato vazio.

Se sobrevive ainda,
se chegou até aqui feito à viva imagem de teu
demônio ou de teu deus;
eis aí um talismã mais inflexível que a lei,
mais forte que as armas e o mar do inimigo.
Guarde-o na vigília do teu peito como um sentinela.
Mas vele-o.
Pode crescer em ti como a mordedura da lepra;
pode ser teu verdugo.
O monstro inocente, o insaciável comensal da tua morte.


Olga Orozco (1920/1999) nasceu em Toay na região de La Pampa, Argentina. Passou a infância e adolescência em Bahia Blanca e aos 16 anos, mudou-se para Buenos Aires onde começou a escrever. Trabalhou como jornalista e dirigiu diversas publicações literárias. Amiga e confidente da escritora Alejandra Pizarnik. Fez parte da geração Tercera Vanguardia de tendência surrealista. Sua obra foi traduzida para muitos idiomas e recebeu vários prêmios, entre eles o Prêmio Gabriela Mistral, outorgado pela OEA, e o Prêmio de Literatura Latino-Americana Juan Rulfo, em 1998.
A autora faleceu em 1999, em Buenos Aires.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Ontem

Tarda
como se ninguém o esperasse.
Ninguém o espera.
Velhas horas passadas
visitam sua morte,
escapam pelas fissuras
e o bebem
de um gole só.

O tempo novo nos envelhece.

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Jornalismo e literatura

"Acredito que um homem deva seguir a sua natureza. Ele até pode fazer outra “coisa” para se manter vivo desde que não perca de vista o objetivo que tem em mente. Mas que não se demore, pois isso poderá gerar um comodismo e até fazê-lo abandonar o projeto inicial.
Estou pensando num conhecido advogado que prometeu, na época de faculdade ainda, para outros dois colegas (que pretendiam ser escritores) que primeiro ganharia muito dinheiro e depois iria escrever... Já se passaram quase 50 anos e, de fato, o cara ganhou muito dinheiro (e continua ganhando), só falta a outra parte da promessa...
Literatura não é como andar de bicicleta, que você aprende e não esquece mais...
De outra parte, lembrei de uma entrevista dada por Ernest Hemingway para The Paris Review (num café de Madri, 1954) e, indagado se o jornalismo era importante para a formação de um escritor, não titubeou em afirmar “... O trabalho de um jornal não prejudica um jovem escritor e poderá mesmo ajudá-lo, se ele sair a tempo...”. "
(Leia o texto completo AQUI)

Trecho do texto "Jack London - Parte do aprendizado", do escritor Olsen Jr. (foto). Ele me fez lembrar uma velha conversa que tive com alguns dos jornalistas recentemente formados que trabalharam no meu jornal... "Se continua tudo assim, os escritores terão que fazer as entrevistas a tantos jornalistas que pretendem seguir a mesma profissão...", brinquei.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

Desaparecidos!



"... Reconheço, tive mais sorte do que muitos que jamais foram encontrados. Mesmo sabendo que choveu sangue e aparentemente cessou, ainda continua pingando embaixo das árvores onde eu me refugio. Mesmo que possa estar perdido, morto por dentro e tenha feridas não cicatrizadas que continuam se multiplicando. Elas, diferentes nos inúmeros raptados, não desaparecem. Continuam mutilando-me. Combater a suposta minoria terrorista se converteu em genocídio. Nada mais terrível e sublime que contar a própria verdade, a poesia do desespero, que ainda procura na mesma praça com brancos lenços amarrados na cabeça, a outra metade da história.
Embora não sendo eterna, a dor parece interminável, suicida. O passado para muitos ainda não fala por si mesmo. Jurei tentar esquecer, mas não esqueço.
Monto meu quebra-cabeças com partes de mim, perdidas, feito de restos que não encaixam em nada. Agora qualquer mostra de afeto me deixa transparente, puro, cheio de felicidade... Mas sem saber, sem querer ou parar para entender, me pego também fugindo de alguma coisa, qualquer coisa, e corro do jeito que ainda consigo, até meu fôlego esgotar, até meu coração lento acelerar...
Algumas vezes não é nada mesmo. Tomo meus remédios, falo mal, xingo muito, grito além da minha garganta, como se continuasse a sentir tudo de novo e volto a me prometer parar com isso. Em outras, ainda choro; poucas vezes mesmo... Uma ou duas, no máximo, por dia. E rapidamente me escondo no banheiro e enxugo as lágrimas, acesas pelas tantas mortes que morri e que vi morrer.
Como se mede o ódio? Ele me inunda e bebe o resto.
Nunca mais também vi minha filha, ou melhor, vejo-a sempre... Quando “desapareceu”, jurei revirar o céu e a terra para encontrá-la. Mas parecia não estar nem em um, nem no outro... Possivelmente, esteja no mar... Agora está em todas as partes; aonde vou, vai junto, sempre. Terão vencido se não conseguisse vê-la mais... E é olhando para o céu que a vejo melhor.
Ainda luto por justiça, persigo alguns fantasmas que andam por mim e pela rua e gosto de me sentir livre. Toda vez que lembro, cuspo de nojo e revolta. Passo meu dia cuspindo.
Tudo isso, suportado por alguém contra quem ninguém formulou qualquer acusação, num tempo que é melhor lembrar esquecendo.
Guardo um velho revólver para o caso de ainda voltarem. Ou talvez sirva para mim, para eu finalmente descansar deles. Quem aparecer primeiro, leva.
E a memória não me deixa nem um minuto em paz... "



Trecho do meu conto "Desaparecido" (Borges e outras ficções), sobre as vítimas das muitas ditaduras que passamos e seus desaparecidos políticos... Lamentavelmente, baseado em fatos reais...

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

O decálogo do escritor de Juan Carlos Onetti

(em espanhol)

I. No busquen ser originales. El ser distinto es inevitable cuando uno no se preocupa de serlo.

II. No intenten deslumbrar al burgués. Ya no resulta. Éste sólo se asusta cuando le amenazan el bolsillo.

III. No traten de complicar al lector, ni buscar ni reclamar su ayuda.


IV. No escriban jamás pensando en la crítica, en los amigos o parientes, en la dulce novia o esposa. Ni siquiera en el lector hipotético.

V. No sacrifiquen la sinceridad literaria a nada. Ni a la política ni al triunfo. Escriban siempre para ese otro, silencioso e implacable, que llevamos dentro y no es posible engañar.

VI. No sigan modas, abjuren del maestro sagrado antes del tercer canto del gallo.

VII. No se limiten a leer los libros ya consagrados. Proust y Joyce fueron despreciados cuando asomaron la nariz, hoy son genios.

VIII. No olviden la frase, justamente famosa: 2 más dos son cuatro; pero ¿y si fueran 5?

IX. No desdeñen temas con extraña narrativa, cualquiera sea su origen. Roben si es necesario.

X. Mientan siempre.

XI. No olviden que Hemingway escribió: "Incluso de lecturas de los trozos ya listos de mi novela, que viene a ser lo más bajo en que un escritor puede caer."

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Reflexões sobre a escrita (por Norman Mailer)


  1. Escrever é algo espectral. Não existe a rotina do escritório para manter-te em marcha, apenas a página em branco de cada manhã, e nunca sabes de onde vem tuas palavras, essas palavras divinas.

  2. Uma e outra vez descubro que meu inconsciente ira revelar-me o que eu decida, quando ele o decida.

  3. Ao escrever um livro, existem momentos excepcionais que sentes como se estivesses descendo um refletor ao abismo da tua alma.

  4. O escritor é todo-poderoso quando se senta ante seu escritório, mas na cena pública pode sentir que seus direitos são insignificantes. Sua coragem, se é que tem, deve aprender a conviver com as feridas que deixam os comentários da sua obra.

  5. Não importa sobre que te descobres escrevendo, se está te dando a energia suficiente para continuar, então, a obra tem uma relação contigo a essa altura não a questionas.


    Trecho do livro “Un arte espectral – Reflexiones sobre la escritura”, (em espanhol) de Norman Mailer (Tentei passar a idéia do texto na tradução para o Blog)

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Falta

Estendo sua ausência sobre a toalha,
sirvo café para dois,
e nada falo para ouvir
o que não disse.
Bebo o meu, enquanto o dela espera,
e nem consigo olhar
como não pulsa.
Este frio não é seu
nem o vazio da minha voz
que morre até a morte,
interminável.
Escrevo para que me seja dado
seu nome
no tom e carência certa,
enquanto digo anjo, lua, boca.
Depois nada e calo.
Tudo falta,
como se não tivesse sido.
Não sei se quero
o que já não existe,
ou ambas,
ou todas nela mesma.
Recolho a mesa,
a cadeira do lugar e
bebo frio seu café.
As flores de um minuto atrás
secaram.
Disse
o que eu não saberia como,
deste jeito imenso de estar só.
Já somos o silêncio
que seremos.

As perdas não me entendem.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Pela última vez

Entre um sim e um não
vestiu-se nua, e desarmada
saiu de trincheiras
que torcem e retorcem a palavra
até cair o último silêncio.
E foi então,
que novamente
disse tudo,
mais nada,
pela última vez.

E foi,
como nunca,
como quem já não está.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Poção

Cadê o remédio de efeito lento,
de muda sequela,
que apaga
o nunca dos olhos?

Cadê o veneno acelerado
de agora ou nunca
que abrevia
a sede de ausência?

No mesmo copo,
vazio,
inalcançável

sempre.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Calar

Silenciar
o vácuo e o repleto
dos olhos
ante o espelho e o esperado.
Silenciar de ser e de sede.

Calar monólogos,
as fogueiras da fala.
Mortos de mudes,
mudos,
entre o não dito e o confiscado.
Romper com lábios o discurso.

Calar como quem ora.
Calar dependências,
seus alvos, temores,
prazeres orais.

Calar como a pergunta
que não quer calar,
mas que cala
na resposta que não
deixa saber.

Calar tudo,
num todo completo.
De mãos juntas,
de lágrimas dispersas.
Calar o aceno,
pelo coração
na boca.

Calar por amor,
de raiva,
de frases.
Calar por ignorar,
saber por calar.
Estar fora do tempo,
escutar sua animação.

Calar, mas
sem trair o poema,
sem dissolver o silêncio,
sem reprimir,
sem abafar

seu traduz.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Hoje lançamento: Nada tem nome

E depois de algum tempo de promessas e contratempos, acontece hoje, as 19hs, na sede do SESC de Rio do Sul, o lançamento do livro da “Coleção Caderno de Autoria”, organizado pelo escritor Manoel Ricardo de Lima.
"Nada tem nome" reúne experiências de escritas elaboradas nos cursos de formação de escritores do SESC - SC, incentivando a novos artistas. Este volume apresenta textos de onze autores da nossa região: Loreci Bocate, Sônia Regina, Maria Luiza Horneaux, Tiago Amado, Juliana Francisco, Gabriel Gómez, Rose Stocker, Cimara Regiane Mello, Rosangela Schiudini, Jaison Benting e Xico Stocker.
É minha segunda participação neste tipo de coletânea, nesta vez, com o conto (já publicado por aqui) “Leitores anônimos de livros por inteiro”.
Ao Sesc de Rio do Sul e a todos os participantes de mais esta aventura literária, nossos parabéns.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Catarinenses buscam novos mercados fora

No suplemento “Anexo Idéias” do Jornal A Notícia deste domingo, foi publicada uma longa matéria sobre o Mercado Editorial brasileiro.
Quando fala do nosso estado e suas parcerias, cita meu nome e o do escritor e editor Carlos Schroeder (foto).
Leia o texto a seguir...

Catarinenses buscam novos mercados fora
Em Santa Catarina, alguns editores tomaram a iniciativa de buscar mercados externos para ter mais campo de venda dos títulos nacionais. Há três, o dono da editora joinvilense Letra d’Água, Joel Gehlen, negocia a publicação na Rússia de um livro do catarinense Cruz e Sousa. A dificuldade na concretização do negócio é encontrar tradutores para o russo.

A escolha desse país foi por causa da ligação de Joinville com a cultura russa a partir da instalação da Escola do Teatro Bolshoi no Brasil, e que o mercado russo é um consumidor de livros. “Traduzir poemas nesse idioma, e ainda no estilo rimado, é bem difícil. Acredito que esse ano possamos lançar essa publicação lá. A ideia é fazermos um material que também trace um paralelo com o poeta popular russo Alexandre Pushkin”, comentou.

Gehlen negocia com entidades governamentais, um bom caminho para divulgar trabalhos lá fora. Em 2000, o editor exportou mil exemplares do livro “Suíços em Joinville – Duplo Desterro”, do escritor Dilney da Cunha. Esse mercado foi conquistado por causa do interesse dos suíços na colonização da cidade catarinense e bancado pela câmara distrital da região de Schaffhansen, no Norte daquele país.

Este ano, a editora busca parceria com a embaixada brasileira em Paris, também para divulgar os trabalhos de Cruz e Sousa na França. Como os direitos das obras do poeta são de domínio público, fica mais fácil editar o material. “A proposta é colocarmos obras no meio acadêmico. Cruz e Sousa foi importante no movimento literário simbolista, que nasceu na França. E ele ainda é desconhecido por lá. Se fosse realizado um seminário sobre a vida do poeta, as negociações ficariam mais fáceis”, avalia Gehlen.

Em Jaraguá do Sul, o escritor e dono da Design Editora, Carlos Schroeder, aproveita a presença da irmã Juliana em Angola para iniciar um trabalho de garimpagem no mercado no país africano. O fato de o português ser a língua oficial de lá, e do idioma ter regras uniformizadas com a adoção da reforma ortográfica entre os países de língua portuguesa, são encarados por Schroeder como facilitadores para conseguir um canal de distribuição de autores catarinenses naquele mercado.

A dificuldade ainda é a falta de subsídio para exportar títulos. “Os escritores estrangeiros têm menos resistências de entrar no Brasil, mas o inverso é complicado. Muitos países fecham as portas para evitar concorrência externa. Tenho uma expectativa positiva na Angola. É um país que está melhorando as condições econômicas e isso pode facilitar essa negociação”, comentou. Uma das alternativas dele é apostar na venda de títulos não impressos, ou seja comercializados digitalmente.

Outra investida de Schroeder é uma parceria com a editora argentina Bajo La Luna, do jornalista Esteban Peichovich. Através do escritor argentino Gabriel Gómez, radicado em Rio do Sul e que tem dois livros pela Design Editora, foi iniciada uma negociação de intercâmbio entre as duas editoras para publicação de autores “hermanos” em Santa Catarina. A proposta também é de ter escritores catarinenses traduzidos para o espanhol para a distribuição no país vizinho. “O mercado argentino tem uma boa aceitação pelas novidades, além da cultura de lá ser muito consumidora de livros”, destacou Gómez.

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