ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Vozes quebradas

A gravidade,
que tudo deixa cair,
distrai e esconde
o que não escolhe calar,
o que não sabe pousar
e não suporta mais seu peso.
Então se desprende
e desaba.
Daí o ruído de quebradas vozes.
Ignoro as coisas quando dizem
que não falam,
o que emudece porque não cai,
por esquecido horror mudo,
de invisível trancado,
continuo, empoeirado,
que ficam sempre
em pé, detidas, onde esteve a vida,
em previsíveis lugares comuns.

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Dois poemas em espanhol

Origami

Toma el papel y
deshace este origami
donde la figura era otra.
Alisa,
intenta ablandar los recuerdos
de los pliegues, de sus arrugas
en su piel fruncida.
¿Era para volar o simple forma decorativa?
No importa. Aplana bien su contorno,
abre y cura las heridas,
píntale algunos colores,
dibuja con nueva tinta,
agárralo en tus manos
y borra esta casi nada
como si no fuera nada
este papel.


(Aqui para ler Origami em português)

---------------------

Su presencia
firma con sobrenombres,
con diferentes formas ajenas.

El frío ultrapasa disuelto en la cortina.

Es ella.



domingo, 25 de dezembro de 2011

Obrigado Irene!

Uma das maiores poetas da Argentina da atualiadade, Irene Gruss, me honra muito com sua amizade (até colocou sua foto (número 81) seguindo este blog... 
Um grande presente do Natal cheio de poesia! 
Conheça um pouco da sua poesia em portugues, publicada no jornal rascunho de dezembro AQUI e seu Blog "El mundo incompleto" AQUI
e como já disse para ela, o mundo já está completo agora com sua poesia.
 
Obrigado Irene!
 
IRENE GRUSS Nasceu em Buenos Aires, em 1950. Estreou com La luz en la ventana (1982), seguindo-se El mundo incompleto (1987), La calma (1991), Solo de contralto (1997) e La dicha (2004), entre outros.  

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Despedida

No envelope fechado
não havia carta.
Apenas o pavor das vozes
(a salvo de palavras quebradas),
que ainda mesmo ouvia.

Completo demais
para acrescentar.

(Sequer tente ouvi-las. (      )
Tiram o prazer de emudecer.)

Recusou a chamar isso de poesia.

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Poema bilingue


¿Que hace tu música
conmigo?
No consigo recordar
si es parte de esta cama revuelta
debajo del cuerpo
o esta caricia de lo que nace
(el menor de sus detalles), de tristeza protectora,
celebrándote en cantos y nombres,
guardándote antes de llegar, carne;
conservándote antes de ir, sed.

(
¿Será que los pájaros la tendrán oído?
Al final, ¿que saben ellos del alma
de los hombres?
)

---------------------

O que faz tua música
comigo?
Não consigo lembrar
se é parte desta cama revirada
debaixo do corpo
ou esta caricia do que nasce,
(o menor dos detalhes), de tristeza protetora,
celebrando-te em cânticos e nomes,
guardando-te antes de chegar, carne;
conservando-te antes de ir, sede.

(
Será que os pássaros
a terão ouvido?
Afinal, o que eles sabem da alma
dos homens?
)

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Xadrez

No gasto tabuleiro de xadrez,
pintado na mesa da praça,
dois pássaros se disputam algo,
sem importar-lhes
a diversidade da paisagem,
a dualidade das coisas,
o eterno confronto
do preto e do branco.
Deixam seus objetos
e dejetos
como peças
alternadas, continuas,
um perto do outro.
Inadvertidamente
tudo se confunde
e encaixa.
Quem leva mate
sai voando primeiro.

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sobre "Meia-noite em Paris" e cada um por si...

Ainda estou pensando num pequeno diálogo do maravilhoso filme de Woody Allen “Meia-noite em Paris”.
Para quem ainda não assistiu (está perdendo...), esclareço um pouco da história para poder entender aquilo que quero destacar.
Gil Pender (Owen Wilson), um ex-roteirista de Hollywood tenta agora ganhar a vida como escritor. Em viagem a Paris com sua noiva Inez (Rachel McAdams) e os pais dela, descobre que a cidade pode lhe devolver sua inspiração: todos os dias, à meia-noite, Gil pode viajar no tempo, a Idade de Ouro em que seus ídolos viveram (como Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald e muitos outros artistas e escritores reconhecidos).
Numa das cenas onde o protagonista volta no tempo, Gil entrega o manuscrito de seu livro para um impagável Hemingway, pedindo para que este o leia, o carrancudo escritor responde de forma prática e realista:
- “Não vou ler. Se for ruim, vou detestar. Se for bom, vou ficar com inveja e detestarei ainda mais”.
Ainda esclarece que não é uma boa idéia mostrar textos para outros escritores esperando alguma opinião, destaque ou divulgação... Parece afirmar a existência de um clima de competição e inveja entre seus pares.
Não tenho como não associar ou lembrar que escritores entregam seus livros, seus "originais”, e outros tantos textos, para outros tantos escritores (alguns afamados, que apenas com sua “benção” já bastaria...), responsáveis por Blogs, sites, revistas literárias, colunas em jornais e afins, esperando possivelmente, alguma opinião, divulgação ou mínimo comentário de “recebi, obrigado”.
Ninguém sabe em que fundo falso está localizada a prateleira destes livros de pequenas editoras, muito menos se algum dia serão lidos. Além das conhecidas “panelinhas” literárias, ninguém existe se publicar fora do eixo, ou não conta com os favores de algum amigo-crítico da imprensa especializada? Aliás, parecem existir cada vez menos críticos literários que também não se dediquem a escrever... E aí, já viu... Sem falar que quando acontece algum destaque, nem sempre a gratidão do escritor aparece. Mas esse é outro assunto extenso e complexo... Aquela gratidão que consegue transformar uma refeição em um banquete, uma casa em um lar, um estranho em um amigo.
Qual será a válida e real separação entre a literatura boa e ruim? Cada um por si e que ela fale mais alto?
Mesmo que a realidade seja outra, assim como destaca Hemingway, a verdadeira escrita (e seu protagonista) parece não esperar a função da mídia, as benesses da crítica, dos amigos, dos leitores, do suposto reconhecimento e prestígio das grandes editoras... Ela se afirma e confirma por aquela “coisa sagrada”, inexplicável para muitos, para quem a considera, por cima de tudo, e independente de divulgação, sua verdadeira condição de existência.

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