ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

sábado, 29 de maio de 2010

Vidros


Sei,
teu coração late ao contrário
no descompasso
do que está indo, de tudo.
Os vidros quebrados
da janela
cortam e ferem o vento
da voz. Dói.
Não esperes nada
desta nada enorme.
Aqui estamos.
Aqui,
neste silêncio de antes,
nesta derrota dos olhos.
Maquiada, a lembrança vacila
e toda essa memória
quem sabe onde ira parar.
Vem,
vamos abrir a janela,
interrogar todos os vazios,
e como último assombro,
quebrar totalmente os vidros
e escrever num dos pedaços
com hálitos e dedos,
poemas, palavras efêmeras
para ninguém mais enxergar.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Ressuscitas mal


Esqueces teus olhos
nas letras,
nas horas que passam,
detidas.
Orelhas gritam,
bocas enxergam
e o tato
sente o gosto mutilado
das palavras que mordes.

Ressuscitas mal
teus mortos
a cada toque criador
da página.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

"Panorama Catarina" na 4a Feira do Livro em Jaraguá do Sul


A convite do escritor e editor Carlos Schroeder, estarei fazendo parte do "Panorama Catarina" da 4a Feira do Livro de Jaraguá do Sul no domingo, 4 de julho, 15h, onde escritores catarinenses leem trechos de seus livros, autografam e conversam com leitores.

Lançamento dos livros:
“Um baú do tamanho do mundo” de Ida Katzap (Infanto- juvenil/Florianópolis)
“Poesia para as crianças quando ficarem adultas” de Marinaldo da Silva (infanto-juvenil/Joinville)
“Memórias de um sobrevivente do Joelma” de Osório Gonçalves (romance/Joinville)
“O valoroso ídolo humano” de Renato Walter Schuster (romance/Ireneópolis)
“Urbana” de Tiago Furlan Lemos (poesia/Joinville)
“Ser tão olhos” de Silvia Nass (poesia/Joinville)
“Solos de pedra” de Sandro J. Erzinger (poesia/Joinville)
“Mitológica” de Denise Aidar Warnecke (poesia/Joinville)
“Cerimônias do silêncio” de Gabriel Gómez (poesia/Rio do Sul)

sábado, 22 de maio de 2010

O último outro lado


O cachorro que desceu tentou dizer-me algo dos moradores do teto.
Não entendi. Tentei, mas não consigo decifrar nem o próprio grito abafado que escuto cada vez que faço silêncio.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Borges na biblioteca


Eu que imaginei o paraíso na forma de biblioteca,
também o labirinto do livro de areia,
continuo a decifrar máscaras, tigres,
jogos de armar, metáforas de Alexandria.
Esta biblioteca, que outros chamam de universo,
repete o caos, a ordem, a ficção dos espelhos
e se perde, secreta, remota, infinita. Acompanho
a silhueta de rugas com a mesma ternura de passar a mão
no que dorme. Onde guardo seu tato?
Cada livro insinua-se entre sombras
corredores e silêncios; procurando-a quimérica, completa,
inconcebível mitologia. Funde e confunde a palavra
primeira, náufragos, escritas, mundos de babel
em cartografias mutantes.
Ainda cego, pressinto os livros e a noite,
sua origem e a do tempo.
A certeza de que tudo já está escrito
e seu grande vazio.
Quando a vida cai, o mundo apaga, e ela,
iluminada por vozes, não descansa.
Abre portas, entorta vigas e é lâmpada de perdidos,
salvação. Sacode, morde, fere e me recupera com remédio
de tinta impressa no papel.
Só aquilo que se foi nos pertence.
Continuo nela, fênix, fantasma esquecido, feliz,
e ascendo meus olhos sem luz.
Olho quando ninguém olha, e não consigo esquecer
a soma do que li, perdi
e que ainda guardo como revelação.

segunda-feira, 17 de maio de 2010

No Amaury Jr.



Neste final de semana estive em São Paulo e, como convidado, participei da festa no badalado e exclusivo "Clube A", no Sheraton WTC Hotel.

O programa Amaury Jr. (Rede TV) esteve cobrindo o evento e tive oportunidade de conversar e ser entrevistado sobre meus livros... Em especial destaque "Cerimônias do Silêncio", lançado recentemente.

sábado, 15 de maio de 2010

Sou eu



Sou eu.
Não há personagens alheios.
Não procurem, não salvem
nem torturem outro.
Sou quem escreve e se esconde.
Quem a si mesmo plagia.
O verdugo, a vitima e ator.
O mesmo que sempre volta
e não acaba nunca por chegar.
Quem descreve sua própria dor,
olhando os rostos dos outros.
Quem atira a palavra e
oferece a cara.
Aquele fingidor, desamparado,
sujo de angustia, nu.
Alterador de sentidos.
O último e o primeiro gesto,
limite do verbo,
voz ausente das coisas.
Sujeito, predicado
e versos úmidos, escuros,
que já não interessam.
Não me amem.
Mentiras não me salvam.
Comprei a espingarda
de Hemingway.

quarta-feira, 12 de maio de 2010

É hoje...

Do Site da Fundação Cultural de Rio do Sul:
Escritor argentino lança livro de poesias

Na mesma noite em que será feita a abertura da exposição "Olhares da Cidade", o escritor Gabriel Gomez lançara pela Design Editora o primeiro livro de poesias da coleção “Câmara-verso”. Argentino de nascimento mas radicado no Brasil, é um dos maiores colecionadores e pesquisadores de obras do escritor Jorge Luis Borges, tema que permeou seus dois primeiros livros: “A culpa é do livro” e “Borges e outras ficções”.

Trecho da introdução do livro "Cerimônias do Silêncio":

“Este é um livro sobre silêncios. Mesmo que muitas palavras faltem e outras pareçam dissecadas, aprisionadas, evasivas, envoltas de mais silêncio. Difícil de ser alcançado. Para alguns, ausência de som; para outros, a arte de escutar o que não é dito. Prefiro a invisibilidade da palavra e sua nudez.
De forma parcial, conseguimos contemplar apenas seu eco, habitado de forma residual, inefável, interior, primordial. Todos eles convergem e se afundam em palavras que prescindem. De um silêncio vão a outro, ao acabamento da linguagem perfeita, reduzindo e dissolvendo para diferenciar sua voz. Seu ir e vir persegue o inominável. E o prolonga, alternadamente, de forma infinita. Somos o grande ouvido daquilo que se deixa ouvir. E nos interpela ou transpassa...”

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Arte da palavra


Esta semana recebi uma ligação da coordenadora cultural do SESC, Dianalice Ribeiro, que me deixou muito contente... Um dos meus contos publicados no livro de coletâneas “Nada tem nome”, da editora do SESC, foi escolhido para ser encenado no projeto Arte da Palavra – Guia de Leituras (leituras públicas) e viajará com a biblioteca ambulante.
Já assinei o termo de cessão de direitos autorais e os responsáveis já estão trabalhando na peça.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Retratos


Quiroga enganou com a verdade ao vendedor
quando disse que o veneno era para seu suicídio.
Os dois riram.
A barba ajudou.
Alejandra,
Alfonsina,
Virginia,
de cara limpa,
comprimidos, mar e pedras
nos bolsos.
Ana Cristina
no solitário voo.
Sylvia
deitada no gás.
Frágeis imagens na grafia da foto.
Não entendemos seu cansaço.
A vida se quebrou
de olhos ajoelhados
quando terminou a espera.
As rugas seguem seu curso
sem ouvir os segredos sem guardar.
Chegamos tarde.

Apenas enxergamos o que não vimos.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Dois


Um dois.
Não 1... 2...
que seriam três,
ou começo numeral
da contagem infinita.
E sim um dois manuscrito.
Um dos tantos dois.
Um deles.
Nexo.
Exato do lugar que ocupa.
Especifico,
declarado e revelado em letras,
mas sem nome.
Simples, de casa,
banhado em versos, íntimo.
Um dos nossos.
Um dois nosso.
Um dois sem editar,
de novas letras.
O dois de nós.
Ambos, na duplicidade
do ser e seu reflexo.
Sexo.
Conjugados, compatíveis.
História sem par.
Dos dois um pouco.
Somado. Feito um.
Certeiro dois:
Do is
Você
e eu.
Mais nada.

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