ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Não era eu



Sonhei que éramos outros. 
Nossos nomes diferentes, 
noutro lugar qualquer. 
Os sonhos não dão satisfação. 
Admitamos (não queria): 
estamos ainda dormindo. 
É assim, já sei, 
de noite voltamos a rir 
como num filme de lentíssimas (con)sequências. 
Mas agora acordei com os gritos. 
Descobri meus braços estendidos
na tua direção.
O quarto vazio, 
o colchão úmido que apaga 
e afunda tua marca, 
e teus olhos vidrados, 
mordidos em mim. 
Juro, não era eu. 
Sonhei que era o outro, 
o próximo. 
Aquele que sussurra abecedários 
em teus sonhos e te desvela;
e tem o nome cochichado
na ponta
da tua língua dormida.
Esse que faz
a vida possível de lágrimas engolidas, 
as sombras repartidas 
que nos seguem uma e outra vez 
onde deveríamos estar e nunca estamos. 
Pois é, 
acordei. 
Parecíamos vivos e mascados,
um tango mal dançado,
onde não há letra sem traição. 

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