Não tenho fé na palavra.
O dizível é o mínimo
daquilo que quero dizer.
Do outro não falo.
Apenas das voltas da chave na boca,
da sombra que o grito deixa,
do que acaricia o olho,
dos beijos acumulados, interiores,
sem gastar.
Do que evapora e dorme profundo,
das fotos de costas,
das moscas no abandono do céu
ou da porta estreita da casa imensa
por solitária.
Do outro não falo.
Apenas das letras nunca lidas
na fumaça do frio.
Do além de si mesmo,
dos cachorros perdidos,
da mesma dança da colher na taça.
Do livro no peito de quem dorme,
da cadeira virada,
do nada que antecede a dor,
ao tremor, ao fim.
Do outro, naufrago.
Deve existir outra maneira de calar-se.
Da caricia esquecida na tua mão,
e que eu segurei como se fosse
o ultimo galho
que me prendia antes de cair.
Bem ai:
a falha
da palavra.
Do outro não falo.
5 comentários:
Nossa..muito bonita esta cena...dura, mas bonita!!
Abraço....
Obrigado por sempre compartilhar teu parecer...
Abraço!
Imagina se falasse!
Poesia...
bj.
Olá.
Quedas, palavras, vozes, grito, silêncio... coincidências...
"Balaio de gato" lá e habilidade literária cá.
Deve existir outra maneira de calar-se.... (esta foi para mim...rsrsrs)
Muuuito bom.
Obrigada.
Beijo.
Outra casualidade... Ontem no debate sobre poesia no SESC foi citado justamente este poema por muitas vezes ser o dizível o mínimo daquilo que se quer dizer...
Calar-se apenas com palavras!
Beijo!
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