ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

quarta-feira, 28 de novembro de 2012

As mortes em Horacio Quiroga


Quiroga enganou com a verdade ao vendedor quando disse que o veneno era para seu suicídio. Os dois riram. A barba ajudou. Não sabia que sua decisão era mais uma peça do recorrente, parte do seu antes e depois. Que obedeceu a um jogo indecifrável, da série de fatos que está envolvido o universo e seus vínculos circulares, em inúmeras séries e cifras igualmente incompreensíveis, repetitivas. Para isto seu pai teve que morrer com um tiro. Seu padrasto também. E que tentando explicar como seria o funcionamento da arma, matasse acidentalmente seu melhor amigo. Que sua primeira esposa se suicidasse, igual que seu protetor, como seus dois amigos escritores, Leopoldo Lugones e Alfonsina Storni. E que finalmente seus três filhos, Eglé, Dario e a "Pitoca" também procurassem o mesmo fim após a morte do pai.
Assim como no Jardim de veredas que se bifurcam, o tempo se bifurca perpetuamente em inumeráveis futuros de frágeis fios. Em um deles, no caminho mais longo, todos esperam pacientemente até o final.

(Vínculos circulares - do livro "Suicidas, os modos de falar à parede", Gabriel Gómez) 


E quiçá ele poderia ter contado sua propria morte, tal como escreveu Eduardo Galeano, no seu recente livro "Os filhos dos dias":

Hoje, morri.
No ano de 1937, fiquei sabendo que tinha um câncer incurável.
E soube que a morte, que me perseguia desde sempre, havia me encontrado.
Eu enfrentei a morte, cara a cara, e disse a ela:
- Acabou esta guerra.
E disse a ela:
- A vitória é sua.
E disse a ela:
- Mas o quando é meu.
E antes que a morte me matasse, eu me matei.

(Pode ser que Horacio Quiroga Tivesse contado assim sua própria morte - "Os filhos dos dias", Eduardo Galeano)

quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Cansei

Cuando aprendí braille para leer tus cicatrices…
Raquel Bullón Acebes


Deixa. Cansei. Deixa assim. De alguma forma deixa disso. Volta, cansei, volta só hoje, à noite, açoite. Cansei. Estou faminto agora e não quero discutir. É difícil julgar apenas pela casca antiga. A lâmina já não corta e seu cheiro não sai dos meus dedos. De fato, cansei. Nossa vida não era isso. Ouça. Quando ficou assim? Deixa, coloca os pratos e comamos em paz, sem falar, sem olhar, sem dar-nos autênticos motivos, ou sim. Sem sermos você e eu. Eu sei, está fria, a comida, nossa vida, seca de nós, e não volta aonde ia quando íamos juntos. Lembra? Troca. Cansei. Pela última vez, sejamos rápidos de passos, de saídas, de encontrar algum novo canto abandonado, até para lamentar no escuro. Depois correr ou chorar. De leve. Deixa pular primeiro desta corda. Tempo de menos repartido em dois, ou em três, diga. Não sei. Chegamos até aqui, veja, separados o bastante, pela proximidade. Nada. Ninharia, migalha. Droga de vida. É quase isso. Deixa por tanto. Cansei.

Do meu livro: "Suicidas - Os modos de falar à parede"

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Mais sobre o lançamento

Lançamento
Muitas pessoas (O auditório do Sesc teve que ser ampliado com mais cadeiras...), prestigiaram o lançamento do meu 5 livro “Suicidas – Os modos de falar à parede”, realizado na sexta-feira, dia 9. Muita gente ligada à cultura, educação, escritores, ao novo executivo (o vice-prefeito eleito Jean de Liz e esposa), ao Legislativo (o presidente da Câmara de Vereadores José Thomé), imprensa, família, amigos... Agradeço novamente ao SESC (leia-se Volmar, Sidneia e Rodrigo) pela organização e sucesso desta nova edição da Feira do Livro.

Sobre o lançamento (1)
“Caríssimo amigo, escritor, poeta, jornalista Gabriel Gómez: Ainda estou emocionada com o lançamento especial de seu livro SUICIDAS que ocorreu ontem no SESC de Rio do Sul. O coração palpita mais alto quando diante de um escritor, poeta que se desnuda para seu público e brinda á todos com emoções muito cálidas. É preciso ter imensa coragem para mostrar o âmago de si mesmo. E, GABRIEL GOMEZ sabe fazer isto como um ícone em plena seara. Na presença de amigos, familiares e sua veneranda mãe ele, o poeta levitou. Foi realmente uma festa!”
Saudações da escritora Apolônia Gastaldi.

Sobre o lançamento (2)
“Vivenciei ao lado da minha filha Belisa, nessa sexta-feira, às 7 e meia da noite nas dependências do Sesc no Budag (Parabéns pela estrutura do Sesc). O lançamento do livro "Suicidas", Os modos de falar à parede, do escritor e meu amigo Gabriel Gómez. Muita gente presente, algumas que eu não via a muito tempo. Foi muito bom. Uma frase do livro "A VIDA CUSTOU PARA ENTRAR NAS PALAVRAS." O livro é muito bom! Parabéns Gabriel...”
Comunicador Lorival Goulart.

Sobre o lançamento (3)
Gabriel! Parabéns por mais este lançamento de seu 5º Livro. Você tem hoje um importante papel no cenário da Literatura e da Cultura de Rio do Sul e região. Tens o reconhecimento no estado, tens grande reconhecimento em sua tão amada e querida terra Argentina. Para mim você é fonte inspiradora para muitos que ainda timidamente soltam as primeiras palavras no papel, para aqueles que desejam, mas não tem a coragem de se mostrar ao público. Você pode e tem poder para alavancar muitos escritores de seus berços adormecidos. Assim escreveu o nosso Vando (Adorivano Bento) no dia nacional do escritor em 24/07/2012: "Na leitura de um bom livro, o conhecer não lhe esconde/ O livro fala e pergunta, a alma se deleita e responde/ Ler é sonhar acordado, (...) é derrubar as barreiras (...).
Marta Rejane Trindade de Lima, Bibliotecária Grupo UNIASSELVI/FAMESUL
Pedro Klock, Diretor Grupo UNIASSELVI/FAMESUL.

Sobre o lançamento (4)
“Nascido em Buenos Aires, riossulense de alma, um presente para nossa cidade. Gabriel Gómez transcende a palavra e nos presenteia com lindas obras literárias, não é a toa que nesse ano foi merecedor do prêmio “Sucesso Empreendedor na Cultura”. Lutador incansável da valorização da arte no nosso município, Gabriel tem o dom da escrita e uma “língua afiada”, qualidades importantes no nosso tempo, onde nem todos têm a coragem de se expressar... Participou das coletâneas “Livro do Esquecimento” e "Nada tem nome", do projeto SESC e disso nos orgulhamos também. Publicou “A Culpa é do Livro, em 2008; “Borges e outras ficções” em 2009. Em 2010 publicou "Cerimônias do silêncio". E no ano de 2011 lançou o seu quarto livro: "Exercícios da Ausência”. E hoje, temos o prazer de compartilhar com o Gabriel o lançamento de seu quinto livro "Suicidas: Os modos de falar à parede".
Palavras de Sidineia Köpp- Técnica de Cultura do SESC, na abertura do lançamento.

Leituras e comunicadores
Lourival Goulart (rádio Mirador), além de colocar no seu Blog o evento, leu no programa de sábado alguns dos poemas do livro “Suicidas”, no quadro a música da minha vida.
Também o comunicador Cícero Luis (Rádio Mirador) foi com sua família ao lançamento do livro e me entrevistou no seu programa da tarde.
Alem de uma longa entrevista ao vivo, o comunicador Alex Policarpio (Super rádio Difusora/ESPN) esteve prestigiando o lançamento do meu livro no SESC.
O programa Holofoty´s do Fabiano Schneider (Rede BA) prestigiou e acompanhou todo o lançamento com imagens e entrevistas.
A Rede BA e RSTV fizeram para seus respectivos jornais, diversas entrevistas e imagens do evento.
O diário “Folha do Alto Vale” publicou uma longa matéria e fotos sobre o livro e minha carreira de escritor.
Às meninas do Blog “Vale por elas” (Rita e Fabi), pela alegria, fotos e presença e ao Marcos (e esposa Luciane) pela cobertura da Revista Sucesso...
A todos, meu cordial e sincero muito obrigado!


Leia o livro em formato digital, AQUI gratuitamente:

 
 

quarta-feira, 14 de novembro de 2012

Sobre o Lançamento de "Suicidas"

Momento histórico para a literatura de Rio do Sul


O lançamento do livro “Suicidas”, de autoria do jornalista e escritor, Gabriel Gómez, representa um grande momento, para a literatura de Rio do Sul e região.
É válido ressaltar a continuidade da produção literária de Gómez. Em cinco anos, são cinco obras inéditas e com temáticas diferenciadas. Este aspecto, demonstra a relevância do trabalho intelectual do escritor.
Antes da publicação de “Suicidas”, Gabriel lançou  “A Culpa é do Livro”, em 2008. No ano de 2009, publicou “Borges e outras Ficções”. Em 2010, fez o lançamento de “Cerimônias do Silêncio". No ano seguinte, o autor de Rio do Sul editou "Exercícios da Ausência”.
Com esta considerável produção literária, tornou-se o principal escritor da capital do Alto Vale do Itajaí, em atividade, obtendo reconhecimento da sociedade e das pessoas que apreciam o universo literário.
A Associação de Escritores do Alto Vale do Itajaí e os amigos da literatura de nossa região, orgulham-se deste fato e acreditam que o trabalho de Gabriel, poderá servir de inspiração para novos autores, que sonham em publicar os seus escritos. Inclusive, o escritor riossulense já ganhou concursos literários e, consequentemente, teve os seus escritos divulgados em âmbito estadual e nacional.
Em termos de história da literatura de Rio do Sul e do Alto Vale do Itajaí, são poucos os autores que alcançaram a marca de cinco livros publicados. São eles: Alcides Buss, de Salete, Fiorelo Zanella, de Taió, Harry Wiese e Apolônia Gastaldi, de Ibirama, Carlos Schroeder, de Braço do Trombudo, Leonir Pedro Braun, de Imbuia, Lúcia Martins, de Ituporanga, além de Neide Maria de Souza Areco e José Ernesto de Faveri, de Rio do Sul.
São nomes já reconhecidos regionalmente e agora Gabriel passa a integrar este seleto grupo. Além da quantidade de obras publicadas por estes autores, é fundamental salientar a qualidade de conteúdo dos trabalhos. Mesmo com poucos incentivos culturais, no quesito de incentivo à publicação de livros, a região de Rio do Sul e do Alto Vale do Itajaí é destaque, em termos de produção literária no Estado de Santa Catarina.

Jonas Felácio Júnior – Secretário da Associação de Escritores do Alto Vale do Itajaí – Graduado em Jornalismo pela Unidavi, Pós-graduado em História, Cultura e Patrimônio pela Celler Faculdades e cursando a Licenciatura em História pela Uniasselvi/Famesul. Professor de Filosofia na E.E.B. Maria Regina de Oliveira em Agronômica e Professor de História e Geografia na E.E.B. Paulo Cordeiro.

quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Flores

P:
R: Vendo flores na rua, de porta em porta, de carro em carro, no pequeno posto onde trabalho e me entrincheiro.
P:
R: Não, seria como penitência. A intempérie me protege e agasalha. A rua ensolarada substitui a anestesia.
P:
R: Acho que sim. Apenas diria que aqui tudo se vê, que é mais uma forma de sustento. Minto como todo mundo. Não penso no fim do mês, tenho poucas certezas que o desamor me impôs.
P:
R: Não moço, mas se há que ler, eu leio.
P:
R: É que muitos não sabem, mas de cada uma, ajeito as folhas, rego-as com cuidado, coloco um papel platinado como arranjo...
P:
R: Já fiz muito, agora não, aliás, o mínimo necessário. Não temos nada em comum, não me deixaram nada além de alguns beijos esquecidos e fracassos por toda a minha cara. Voltando: quando posso, falo com elas, baixinho. Renovo-as com carícias. No jardim cresce meu pão.
P:
R: Não, já apanhei muito também. Não vai funcionar comigo. Antes chorava por isso, agora apenas grito: Flores! Flores! Perfeitamente ensaiado. De algum modo, sou cada uma delas com o cheiro dos espinhos, quando a gente se cheira.
P:
R: Sim, mas algumas acabam murchando, perdendo seus verdes e vermelhos, caindo suas pétalas com o mesmo silêncio dos doentes. E vão como se vão as flores.
P:
R: Por isso dá pena jogá-las fora, então peço licença e as levo para casa quando meus braços estão vazios. Acomodo todas em vários copos com água morna, onde os ramos parecem sangrar em silêncio no meio da noite, que é quando bebo, e combina com meu aspecto de muitos metros enroscado nas cobertas, com o resto triste e barato do abandono, a mínima luz, as plantas da varanda, olhos de pedra, e eu atrás, encolhida, paredes cegas e o cheiro de funeral das coisas caladas onde parece não haver paisagem, onde restam poucas claridades, além de um sorriso claro. De manhã, pássaros pousam sobre minhas feridas. Eles acreditam que não os vejo antes de dormir. Divertem-se me cercando. Mas, que importam seus murmúrios, enquanto morro? E se Deus fosse uma decepção total? Às vezes penso que a intuição é seu alfabeto. Só não me peçam saber qual é o sentido de tudo isto. Eu deveria ler a Bíblia. Não sei descrever um quarto escuro onde não cabe o céu na janela.
P:
R: Qualquer coisa. Qualquer. Falo de esperança em gavetas separadas.
P:
Em algumas situações gostaria fazer isso, sim. Passar a borracha, apagar algumas partes e redesenhar a vida de uma forma diferente. Por momentos somos apagados pelo que já não conseguimos dizer. Encobertos pelo extraviado. E é com tanta intensidade que não estamos, que nem palavras nos encontram, que do nó da garganta brota sempre a fome ou apenas flores que morrem e que prontamente usarão para decorar nosso silêncio. Não sabemos que fazer do olhar. O que se vê, é o que falta, o que não fala, o que não volta. Não estamos nem detrás da procissão da ausência; e as suas pernas que se arrastam. Nós, que já não estamos: os invisíveis, os esquecidos, os ignorados e errantes... Os que falam com línguas sem céu. Cada dia desaparecemos um pouco, até completar-nos.
P:
R: Pois é... Tento fazer o mesmo com minha vida. Nem sempre consigo. Vez que outra me alcança um desespero. Abro esta porta, mas o inverno nas flores chega por acumulação. Amor e vento (e eu morrendo). Quando acordo todo dia e vejo que sou a mesma de ontem, penso que não é o bastante. Já não sei aonde ir, mas volto a trabalhar cedo para que nada disto se note.

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