ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

sábado, 4 de junho de 2011

Como se estivesses

Estendo a tristeza na mesa,
como um mapa
feito a mão, demarcado.
Como eu.
Pedacinhos de palavras
que já foram
minhas cortinas,
o cheiro da roupa,
dias, frio,
papeis vencidos,
boca vazia dizendo,
chamando,
apagando as luzes
como numa casa,
outra casa, que já não existe,
que copia, altera
tua voz,
como se fosse tua,
como esta.
Olhando-te olhar,
como se estivesses.

Como estás.

3 comentários:

Cassandra disse...

Bom Dia Gabriel!

A desproporção entre o seu mérito (escritor) e a atenção de quem desfruta é certa.

Se, por um lado, nesta fase sua poesia manifesta a escrita sobre a sintaxe da perda e da crise, por outro lado, aspira ao lugar paradisíaco da auto-afecção. A poesia dá forma a um certo modo de estar no mundo. É em seu espelho que a vida tem a oportunidade de admirar-se como vítima e como carrasco, simultaneamente.

Você tem razão quando diz que escrever é um desafio. Penso que, porque a escrita pressupõe falsos paraísos da sinceridade ou da "convicção". O fogo da escrita inflama o papel na medida em que escrever-se é, também, no fundo, deixar-se consumir por um outro; é reconhecer-se na diferença consigo mesmo; não exatamente apagar-se, diluir-se no outro, mas ter revelado por esse outro sua própria contrariedade. O fogo da escrita envolve uma situação dupla, que é a de ser o carrasco do outro, por ser quem se é; mas, também, vítima do outro, ao reconhecê-lo na origem de sua própria constituição. A escrita se apresenta como palavra de fogo, que se consome nas chamas do paradoxo, desintegrando-se à força de afirmar-se, e afirmando-se à força de consumir-se. A liberdade de dizer tudo e a impossibilidade de responder se aproximam, de forma fulminante.
Beijo.

Rafael Castellar das Neves disse...

Nossa...muito bonito isso...dedicação!

[]s

Cassandra disse...

(Adaptação de texto de Marcos Siscar) - desculpe, esqueci...

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