Para quem ainda não assistiu (está perdendo...), esclareço um pouco da história para poder entender aquilo que quero destacar.
Gil Pender (Owen Wilson), um ex-roteirista de Hollywood tenta agora ganhar a vida como escritor. Em viagem a Paris com sua noiva Inez (Rachel McAdams) e os pais dela, descobre que a cidade pode lhe devolver sua inspiração: todos os dias, à meia-noite, Gil pode viajar no tempo, a Idade de Ouro em que seus ídolos viveram (como Ernest Hemingway, F. Scott Fitzgerald e muitos outros artistas e escritores reconhecidos).
Numa das cenas onde o protagonista volta no tempo, Gil entrega o manuscrito de seu livro para um impagável Hemingway, pedindo para que este o leia, o carrancudo escritor responde de forma prática e realista:
- “Não vou ler. Se for ruim, vou detestar. Se for bom, vou ficar com inveja e detestarei ainda mais”.
Ainda esclarece que não é uma boa idéia mostrar textos para outros escritores esperando alguma opinião, destaque ou divulgação... Parece afirmar a existência de um clima de competição e inveja entre seus pares.
- “Não vou ler. Se for ruim, vou detestar. Se for bom, vou ficar com inveja e detestarei ainda mais”.
Ainda esclarece que não é uma boa idéia mostrar textos para outros escritores esperando alguma opinião, destaque ou divulgação... Parece afirmar a existência de um clima de competição e inveja entre seus pares.
Não tenho como não associar ou lembrar que escritores entregam seus livros, seus "originais”, e outros tantos textos, para outros tantos escritores (alguns afamados, que apenas com sua “benção” já bastaria...), responsáveis por Blogs, sites, revistas literárias, colunas em jornais e afins, esperando possivelmente, alguma opinião, divulgação ou mínimo comentário de “recebi, obrigado”.
Ninguém sabe em que fundo falso está localizada a prateleira destes livros de pequenas editoras, muito menos se algum dia serão lidos. Além das conhecidas “panelinhas” literárias, ninguém existe se publicar fora do eixo, ou não conta com os favores de algum amigo-crítico da imprensa especializada? Aliás, parecem existir cada vez menos críticos literários que também não se dediquem a escrever... E aí, já viu... Sem falar que quando acontece algum destaque, nem sempre a gratidão do escritor aparece. Mas esse é outro assunto extenso e complexo... Aquela gratidão que consegue transformar uma refeição em um banquete, uma casa em um lar, um estranho em um amigo.
Qual será a válida e real separação entre a literatura boa e ruim? Cada um por si e que ela fale mais alto?
Qual será a válida e real separação entre a literatura boa e ruim? Cada um por si e que ela fale mais alto?
Mesmo que a realidade seja outra, assim como destaca Hemingway, a verdadeira escrita (e seu protagonista) parece não esperar a função da mídia, as benesses da crítica, dos amigos, dos leitores, do suposto reconhecimento e prestígio das grandes editoras... Ela se afirma e confirma por aquela “coisa sagrada”, inexplicável para muitos, para quem a considera, por cima de tudo, e independente de divulgação, sua verdadeira condição de existência.
4 comentários:
Sei que estou perdendo..... mas ainda vou assistir! rsrsrs
Por enquanto, obrigada por engrandecer ainda mais o presente que vou dar - só voce poderia acrescentar!
Beijo.
É o típico filme para assistir sua magia no cinema...
Sobre o livro: A intenção e o amor que sinto por ele, supera seu resultado...
Obrigado e Beijo.
Parece-me que não só os escritores invejam-se mutuamente – leitores invejam muito mais os escritores.
Qual leitor já não pensou: “por quê não escrevi isso antes desse cara, é justamente o que eu sempre pensei sobre o assunto”.
Também é comum a sensação, entre nós leitores e mortais, de que faríamos melhor que o próprio escritor, uma vez que corrigir é muito mais fácil que inventar.
Gabriel é objetivo, com um realismo que toca o coração, descreve o que sentimos, o que dói... Sentimentos que por vezes precisamos traduzir e nos faltam palavras.
“O leitor é que faz o livro”, disse-me Gabriel... mas são os escritores que nos despertam para as viagens...
Alguns contos e poesias me tocaram ao ler “exercícios da ausência” e “Borges e outras ficções”.
De parte do que sinto, segue uma parte: “No Fundo, somos bairristas. Queremos invadir, mas voltar para onde já estamos. Navegar ancorados, ir seguros pela corda guia, não sair da mão firme, genitora. Colocamos nossas bandeiras para identificar conquistas e possessões, delimitamos a nova extensão com sinais, cheiros próprios e da infância, mas ambicionamos secretamente nos perpetuar no mesmo espaço, nas coisas que nos cercam e esperam; olhar remoto, distante, mas da mesma janela, a nossa.” (Borges e outras ficções - Corpo, limites, beiras - p.27)
Oi Sol! Que bom você por aqui!
Obrigado pelas palavras... Quem escreve fica sabendo, depois, ou nunca, que descreve o que muitos já perceberam com outros olhares...
Espero você mais vezes...
Abraço para o mano Osmar.
Um beijo.
Postar um comentário