ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Dois pensamentos de Borges, uma pergunta com opções e uma constatação

Os pensamentos

Sobre os livros na sua biblioteca: "Ordenar uma biblioteca é uma maneira silenciosa de exercer a arte da critica." (Ele já tinha dito que não guardava na sua biblioteca nenhum livro que tinha escrito. Não tinha como ficar ao lado dos que considerava seus mestres.)
[...] Eu sigo brincando de não ser cego, sigo comprando livros, sigo enchendo minha casa de livros. Outro dia deram-me a Enciclopédia de Brockhause. Senti a presença desse livro em casa, senti-a como uma espécie de felicidade. Aí estavam vinte e tantos volumes com uma letra gótica que não posso ler, com os mapas e gravuras que não posso ver e, no entanto, o livro estava ali. Sentia como que uma gravitação amistosa vinda do livro. Penso que o livro é uma das formas de felicidade que temos, os homens."Sobre os espelhos: "Estou só e não há ninguém no espelho. [...] Eu que senti o horror dos espelhos/não só diante do cristal impenetrável/ onde acaba e começa, inabitável,/um impossível espaço de reflexos/ porem diante da água especular que imita/ o outro azul em seu profundo céu/ que as vezes aproxima o ilusório vôo/ da ave inversa o que um tremor agita.../ "
Os espelhos o assustavam. Tinha repetitivos sonhos com esta duplicidade.

A pergunta

Mesmo sendo cego, você gostaria de estar rodeado de:
1)      Apenas de livros que você escreveu.
2)      De espelhos.
3)      Dos livros que você ama.

A constatação

Borges tinha razão.  

5 comentários:

Cassandra disse...

Ainda citando Borges:
"Mis libros (que no saben que yo existo) son tan parte de mí como este rostrode sienes grises y de grises ojos que vanamente busco en los cristales y que recorro con la mano cóncava. No sin alguna lógica amargura pienso que las palabras esenciales que me expresan están en esas hojas que no saben quién soy, no en las que he escrito. Mejor así. Las voces de los muertos me dirán para siempre. "
Penso que são a perfeita companhia, nos sonhos, nas fantasias, no silêncio... mesmo na não leitura, na presença calada que completa, que amplia horizontes. Sem dúvida, Borges tinha razão!
Beijos.

Cassandra disse...

Sobre os espelhos, Pessoa:
"Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas."

Sobre os livros que escrevi, imagino o que diria Gòmez sobre "A Culpa é do Livro"... impossível não amar... aqui, não entendo Borges... como ignorava seus filhos?

Beijo.

Gabriel Gómez disse...

Vou te fazer lembrar de outra frase de Borges: A gente publica para não corrigir o mesmo rascunho a vida toda... Ou seja, para se desfazer dele...
E aquilo que adverti no primeiro texto dos meus “Exercícios...”, o que parece terminado, apenas está abandonado...
Beijos

Cassandra disse...

Desculpa, mas uma leitora teimosa e metida, não se conforma assim tão facilmente... li e guardei:
"... Livros me sacodem, mordem e me ferem como a mais dolorosa das desgraças, e me recuperam com o remédio diluído na tinta preta impressa no papel. No acúmulo e no desprendimento, achei minha companhia e consolo."...
Talvez então, um escritor busque a escrita perfeita. Mas pergunto se ela, não é a escrita que cativa o leitor?
Borges não guardava seus livros na biblioteca, os abandonava, no entanto voce (por exemplo)...
Meu receio, (novamente como voce escreveu) é "...as páginas estavam em processo de mutação. Sua escrita não tinha mais prazer, nem encanto, nem poesia..."
Enfim, me perdoe. Entendo um pouco de como se exprime uma alma de artista e, por ser leitora, apaixonada, e dói a possibilidade de perder-se uma obra...
Beijo.
(prometo me calar.....por um tempo...rsrsrs)

Gabriel Gómez disse...

Cassandra... Se tudo fosse coerência, que seria da escrita?
Sei, é isso, e também não.
Gostaria que fosse tão fácil, delimitado e certeiro, mas... As obras, supostamente perdidas, têm a mão do certeiro para não se arrepender depois.
Tirando Kafka, muitos gostariam de perder obras inteiras que o tempo ajudou a piorar, segundo sua óptica atual.
Que outros se orgulhem pelo que escrevem (já disse o velho bruxo...), eu me orgulho do que li.
Obrigado, beijo!

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