Leio numa entrevista que Onetti já tinha decidido nos últimos anos, permanecer na cama do seu quarto em Madri por tédio. Recebia seus visitantes na cama e também escrevia nela, mais por recusa que por necessidade. Trocava o dia pela noite, em companhia de um maço de cigarros e um copo de uísque: “Embebedar-me não. Não serve para nada. A questão é ter sabedoria do gradual”, confessava. Estabeleceu na sua literatura um tipo de relação de divindade, com três deuses em um, definiu. O Pai, o filho e o espírito santo; ou seja: paixão, necessidade e vício.
Suas historias dificilmente tenham um final feliz. Ele disse que quando começa a escrever não sabe exatamente seu final. Mas elas, na sua maioria, acabam mal.
Mas quero lembrar uma opinião do seu conterrâneo uruguaio, Mario Benedetti: “Seus contos são insondáveis e como seres vivos que temos que voltar a ver uma e outra vez, do começo ao fim, e pelo meio, pelos cantos das páginas e dos parágrafos; e começar de novo porque a vida e os contos são complicados, e passado o tempo, seis anos ou uma semana, o conto já é outro, e a gente já é outra, e então temos que recomeçar e revirar-los, agitá-los antes de usar e deixar que as palavras voltem a assentar-se para permitir-lhes mais uma vez revelar seu mistério...”
A mudança acontece, em geral, com toda boa literatura. E, irremediavelmente, também com cada um de nós.
2 comentários:
Nunca li nada de Onetti.... mas, eis porque (foi Benedetti quem disse) voce teve que tomar a iniciativa de fechar o notes....
Saudades.
Beijo.
Onetti foi mais reconhecido postumamente que em vida, mesmo no seu país... Mas nunca é tarde para decobrir o bom...
Mais um sábado...
Beijos!
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