No “Dicionário de Lugares Imaginários” de Alberto Manguel e Gianni Guadaluppi, um curioso guia para a transição entre o mundo da realidade e o do sonho literário, em mais de 1.200 verbetes (ou possivelmente “destinos”), poderá “viajar” para infernos, paraísos, céus, mundos subterrâneos, cenários incríveis ou absurdos; no futuro, passado e até fora do tempo no universo inusitado. Em alguns deles, existem mapas e indicações como chegar... Em outros, as mesmas explicações são complexas, impossíveis.
Incrível ou não, os autores não inventaram nada, ou melhor, nada que já não tivesse sido inventado em inúmeras histórias que deram origem a tantos lugares...
Jorge Luis Borges (pai literário de Manguel), com a colaboração da historiadora Margarida Guerreiro, escreveram nos anos sessenta, o “Livro dos seres Imaginários”, uma antologia de criaturas literárias (Leia um deles AQUI), que certamente conhecem cada lugar enumerado neste dicionário.
E já que falamos do “velho bruxo”, descrevo um dos tantos lugares que podemos encontrar em sua inesgotável literatura:
Babel: Cidade de localização indeterminada, célebre por sua biblioteca, não deve ser confundida com a Babel bíblica (Gênese 11:1-9). Essa biblioteca, que alguns chamam de universo, constitui-se de um número indefinido, e quiçá infinito, de galerias hexagonais, com vastos poços de ventilação no centro, cercados por varandas baixíssimas. De qualquer hexágono vêem-se os pisos inferiores e superiores interminavelmente. A distribuição das galerias é invariável. Vinte estantes, com cinco longas prateleiras, cobrem todos os lados, menos dois: sua altura, do chão ao teto, quase não excede a de um saguão estreito, que desemboca em outra galeria, idêntica à anterior. À esquerda e à direita do saguão há dois quartinhos minúsculos. Um é para dormir em pé; o outro é um banheiro. Por ai passa uma escada espiral, que se debruça e se eleva para o longe. No saguão há um espelho, que duplica as aparências fielmente. Os homens costumam inferir desse espelho que a biblioteca não é infinita (se o fosse realmente, para que essa duplicação ilusória?). Cada prateleira encerra 32 livros de formato uniforme; cada livro tem 410 páginas, cada página quarenta linhas; cada linhas, umas oitenta letras na cor preta. Uma vez que os símbolos ortográficos são 25 e que a biblioteca é infinita, encontra-se ali tudo o que é dado a expressar, em todos os idiomas. Tudo: a história minuciosa do futuro, as autobiografias dos arcanjos, o catalogo fiel da biblioteca, milhares e milhares de catálogos falsos, a verdadeira historia da morte de cada homem, a versão de cada livro em todas as línguas. Geração após geração, os bibliotecários percorrem a biblioteca em busca do livro.
(Jorge Luis Borges, “La biblioteca de Babel”, em El jardin de los senderos que se bifurcan, Buenos Aires, 1941; “A biblioteca de Babel”, em ficções, trad. Carlos Nejar, São Paulo, 1995)
4 comentários:
Thank You Wang...
(Taiwan (Taichung) poderia ser também um lugar imaginário para mim...)
Meu dicionário de lugares imaginários é o Google... O primeiro comentário é um belo exemplo.
é um barato viajar nesse livro mesmo!
abraços, gabriel!
Dicionário de Lugares Imaginários está na minha lista de futuras aquisições há tempo. Mas a lista de leitura ainda é enorme, para pode encará-lo agora.
kleitongoncalves.blogspot.com.br
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