ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Não é dizer adeus...

Rega a ferida de manhã, e apenas sente
que o vento sopra de noite.
Deita na poeira, bate em algumas portas
e bebe seus dias com miolo seco de pão.
Muda sempre, consome, dança, rói,
atormenta o que não pára de perder.
Tem a ternura dos idos, das pombas da fome
que comem na mão.
Mas seu rosto gasto, retorcido,
dilui-se na rua, desaparece de ignorado.
Vem do silêncio,
sem preparar a palavra.
Existe um lugar sem dor?
Cadê o jardim fora dos sonhos?
Porém, hoje, a ferida secou
e, sujo de limpeza que não prospera, agoniza
entre sombras assustadas.
Desaba tanto em orações e uivos
que gasta Deus.
Já não é hora do pássaro voar?
Mas não chama ninguém para contar-lhe a fábula,
nem ver a baba na última miséria exposta.
Apenas morre demais,
quando a dor parece suportável,
e pela primeira vez,
sem enxergar-se morrer.

O silêncio era uma promessa.

O cão lambe a mão
que parou de tremer.
E jura,
por tudo que já fez de errado,
que isto
não é dizer adeus.

7 comentários:

Anônimo disse...

Nossa realidade da rua feita poesia... Já tinha lido no teu livro. Sensível.

Cassandra disse...

Gabriel!

Uma 'história' sobre estar desconexo da existência, sobra a duração da vida, o fato do tempo cada vez mais se contraindo e a ameaça da proximidade do término, escoando por entre os dedos da imaginação...
Não é preciso dizer adeus...Voa sem dizer adeus...


Um dos que mais gosto!

Beijo.

Gabriel Gómez disse...

É isso ai... (até suspeito que acelerou sua ida tomando tanto "cocoricó").
Beijo.

Rafael Castellar das Neves disse...

Excelente....muito bom, muito real!!

[]s

Gabriel Gómez disse...

Obrigado Rafael. É sempre muito bom ver você por aqui.
Abraço.

Anônimo disse...

Gabriel, meu amigo poeta, que poema maravilhoso!

Vc me emociona muito com os seus versos e a sua forma de ver o mundo.

Que bom que existem pessoas como vc, que traz mais cores a nossa vida. :)

Quero, em agradecimento, dar-te um presentinho, em sinal da minha admiração por seu trabalho com a poesia. É singelo, mas é de coração, viu? Está lá no meu blogue.

Um abraço! :)

Gabriel Gómez disse...

Obrigado Patricia... Já peguei e coloquei no meu Blog... É muito bom saber que as cores ficam melhores com minha poesia...
Já apareci também no teu espaço para agradecer esta querida homenagem...
Abraço!

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