Quando chegamos ao contorno,
temos que parar ou extravasar, acuar ou persistir,
cessar ou prosseguir.
Dar-lhe fuga.
A beira nos faz suicidas.
Construímos bordas querendo aprisionar o
conteúdo. Temos medo, colocamos limites.
Mudamos margens para mais espaço.
Embora seja sempre o mesmo...
Buscamos que seja nosso, possuí-lo,
invadir, ampliar territórios conquistados,
alongar paredes levantadas.
Agir em torno, explorar.
Muitas, não fecham, não coincidem.
Nossos limites parecem diferentes.
Não temos apenas fronteiras, e sim portas.
Corpo, embrulho, pequeno maço da alma,
finas capas de incertezas.
O limite acumula fantasmas, rastros e ilusões.
O tempo passa por ele com marcas.
Os objetos não, ficam estacionados,
ocupando o lugar da emoção.
O corpo se arrepende,
paralisa, nutre-se do nada.
No fundo, somos bairristas. Queremos invadir,
mas voltar para onde já estamos.
Navegar ancorados, ir seguros pela corda guia,
não sair da mão firme, genitora.
Colocamos nossas bandeiras para identificar conquistas
e possessões, delimitamos a nova extensão com sinais,
cheiros próprios e da infância,
mas ambicionamos secretamente
nos perpetuar no mesmo espaço, nas coisas
que nos cercam e esperam; olhar remoto,
distante, mas da mesma janela,
a nossa.
2 comentários:
Bom dia Gabriel!
Começo segunda feira com uma surpresa... esperava outro escrito! rsrs
"Limites" nos mostra como as coisas funcionam nas nossas vidas, o que às vezes a gente não considera... esquecemos que, para nos prepararmos para compreender o infinito, devemos antes compreender o finito.
Por outro lado, Eduardo Mallea, escreveu sobre o destino do homem: "O destino de cada homem é pessoal apenas na medida em que pode acontecer se assemelhar ao que já está em sua memória."
Somos os criadores de objetos e valores, e vemos neles algo de transcendente, eterno, verdadeiro, enquanto que não são mais do que algo humano, excessivamente humano.
Enfim, o desafio se apresenta e se supera imediatamente após cuidadosa leitura: o de fazer poesia com os limites, experimentando os "deslimites" da palavra!
Beijo.
Oi Cassandra...
Pois é... Eu também esperava outro escrito, mas parece que ele não acaba, que muda, que pede mais e não consigo saber se já está pronto (mesmo porque nunca está).
Por enquanto está na geladeira e sei que é para ser lido em voz alta (deve ser pelo longo que resultou...)
Publiquei este, que na verdade é antigo e poderás ver que é um poema que deu inicio a um outro (mesmo) texto, feito prosa, e já publicado em livro...
Obrigado e beijo!
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