Cuando aprendí braille para leer tus cicatrices…
Raquel Bullón Acebes
Deixa. Cansei. Deixa assim. De alguma forma deixa disso. Volta, cansei, volta só hoje, à noite, açoite. Cansei. Estou faminto agora e não quero discutir. É difícil julgar apenas pela casca antiga. A lâmina já não corta e seu cheiro não sai dos meus dedos. De fato, cansei. Nossa vida não era isso. Ouça. Quando ficou assim? Deixa, coloca os pratos e comamos em paz, sem falar, sem olhar, sem dar-nos autênticos motivos, ou sim. Sem sermos você e eu. Eu sei, está fria, a comida, nossa vida, seca de nós, e não volta aonde ia quando íamos juntos. Lembra? Troca. Cansei. Pela última vez, sejamos rápidos de passos, de saídas, de encontrar algum novo canto abandonado, até para lamentar no escuro. Depois correr ou chorar. De leve. Deixa pular primeiro desta corda. Tempo de menos repartido em dois, ou em três, diga. Não sei. Chegamos até aqui, veja, separados o bastante, pela proximidade. Nada. Ninharia, migalha. Droga de vida. É quase isso. Deixa por tanto. Cansei.
Do meu livro: "Suicidas - Os modos de falar à parede"
Um comentário:
Vi (e ouvi) este poema declamado pelo Aurelio no programa onde vc foi convidado. Achei linda sua interpretação! Lindo o texto, com pouco diz muito. Muito.
Postar um comentário