ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

domingo, 16 de janeiro de 2011

Ofício

Minha escrita,
como alguns palhaços,
já não precisa maquiagem.
Sabe como ouvir-me,
ouvir-se,
sem aparentar dor.
É o seu ofício.

É tarde
e te entrega ao abandono.
O frio traspassa a cortina.

Não escutes o que escrevo,
não bebas desta sede.

As palavras se foram
para chamar-te amor.

5 comentários:

Cassandra disse...

Depois do suicídio, falas sobre o amor!

Vivemos num sistema que funciona sobre a culpabilidade. Olhar a morte de frente é um sentimento anarquista perigoso contra a sociedade estabelecida. Depressão? Amor? Defectível? Solidão? Liberdade? Não compreendo que uma pessoa muito deprimida tenha força para se suicidar. Eu poderia me suicidar apenas em um estado de graça, em num estado de prazer extremo... É a escolha que elimina todas as escolhas.

A arte de viver acredito que seja criar consigo e com os outros individualidades, seres, relações, qualidades que sejam inomináveis. Se não se pode chegar a fazer isso na vida, ela não merece ser vivida.

O amor é uma força perdida, que deve perder-se imediatamente porque não é nunca recíproca. É sempre só, o niilismo total, como a vida e a morte...

Gostei mais da atual versão (foi a primeira né?)

Beijo.

Gabriel Gómez disse...

Mas até o que tiro e coloco já sabes! Não escapa nada...
Na verdade o poema é mutante. Já disse que o livro ter muitos daqueles já publicados que já estão diferentes... Até na hora de publicar quero mudar, trocar, refazer, tentar diferente... Muitos deles preciso publicar para enxergar o que será mudado ou corrigido... Muitos vão até com erros mesmo (já disse o mesmo cabeçalho do blog...). Escrevo num idioma que não me pertence e deixo claro isso.
O velho pensamento borgeano: publicamos porque não aguentamos mais refazer sempre o mesmo... Publicamos para não corrigir eternamente o mesmo...
E falando sobre suicídio (?!), o poeta argentino Jorge Boccanera (que eu também gosto muito pela sua originalidade) escreveu uma pequena carta do suicida (vou traduzir): “O pouco que vivi, me fez perder demasiado tempo.”
Na verdade é muito difícil pensar como qualquer outro no seu lugar... Como pensa um corrupto, um sequestarador, um assassino ou um suicida... Mesmo porque se fossemos, certamente seriamos outros que, aquele “bom senso” não seria o tal.
É só pensar que existe aquela fração de segundo que alguém determina ser herói ou cobarde, e tirar forças até para levantar um carro com uma vitima embaixo...
Nós fazendo isso? Como? Apenas saber que cada pensamento é uma causa e cada condicionamento é um efeito.
Mas na poesia, o bom mesmo, é pensar que alguém lê nossos escritos, e logo parecer que errou do autor... Cada palavra significa coisa diferente para cada entendimento... E ai está a sentido da coisa ...
Beijo e obrigado.

Cassandra disse...

Cada palavra significa coisa diferente para cada entendimento... é... mas o que me intriga, é o significado real... o pensamento do autor, como uma charada que claro, nunca sei se consigo chegar lá. Meio um mistério. Então continuo minha busca...
E, também tenho minha parte de "observadora" rsrsrs (não foi a primeira vez por aqui!)

Até a próxima! Beijo.

Gabriel Gómez disse...

"Cada palavra disse o que disse e além disso, mais e outra coisa"
Alejandra Pizarnik.
Bj.

Anônimo disse...

Gosto tanto dos escritos quanto da soma dos comentários. Que bom se todos comentassem!
Uma coisa que ainda não entendo é que sempre aparece alguém novo como seguidor (pode ver), mas não comenta. É normal isso? É assim que funciona? Porque seguir e não comentar, participar? Sei que não concordarias, mas muitos deles, acredito, querem apenas aparecer. Só pode!
Desculpa. Fuji do foco.
Gosto muito de tudo isto!
abrs.

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