No próximo mês de setembro completa-se mais um ano do suicidio de DFW. Segundo o laudo da polícia ele pregou um cinto num suporte de madeira do telhado dos fundos do quintal da casa, amarrou seus punhos com fita adesiva, morrendo lentamente sufocado. Tinha dito que não é mera coincidência que adultos que se suicidam com armas de fogo quase sempre atiram na cabeça. Apontam e atiram no terrível mestre. E a verdade (era verdade?), é que a maioria desses suicidas estão mortos muito antes de puxarem o gatilho.
Não estavas morto David. Estavas? De onde para onde pulastes? Os jornais dizem que foi depressão. Depois de traduzir, escrever e interpretar tantas pessoas deprimidas. A forma e textura da sua dor, os sistemas de apoios, fragilidades: “A pessoa deprimida estava com uma dor terrível e incessante e a impossibilidade de repartir ou articular essa dor era em si um componente da dor e fato de contribuição para seu horror essencial”.
A crítica já tinha dito que poderias fazer o que quisesses: algo triste, divertido, descabido, arrebatador ou absurdo com igual mestria; tudo ao mesmo tempo. E o pior é que você o fez, David. Com certeza teve algum pedido de ajuda que não soubemos ler, pensamos que era simples e genial criação literária. Afinal, o que você considerou David? Qual foi tua verdade de v maiúsculo que decidiu como ias tentar ver? O truque não era mantê-la evidente na consciência diária? Vidas distintas, distantes, dias ausentes como dias iguais. Já tinhas antecipado que a verdadeira liberdade é a constante e torturante sensação de ter tido, e perdido, alguma coisa infinita. Perdemos todos, David, mas tua literatura foi mais importante que tua morte. Isto continua sendo aquela água para o peixe, que como tudo o essencial, passa inadvertido, permanece escondido para nós, e não conseguimos enxergar por obvio e absoluto. Mas é vital, David, é vital. Isto é água! Lembrar e reconhecer sempre que isto é água! Mas que também é só mais um lugar comum e banal, como teu refugio preferido, as extensas e exaustivas notas de rodapé.
Teremos apenas que lembrar que nossas trincheiras diárias, comuns, triviais, podem ter a importância de vida ou morte.
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