ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

sábado, 26 de setembro de 2009

A orelha de um delirio

A pedido do escritor e editor Carlos Schroeder escrevi a orelha do livro “Delírio Real de um Amor Imaginário”, de João Luis Chiodini. A obra relata os conflitos de um homem apaixonado por uma mulher que só vê em sonhos. Ele é casado, tem um emprego, mas não gosta da vida que leva. Nos vários contos (ou na única história que preenchem as 96 páginas), o personagem sonha com seu cotidiano, tenta fugir da realidade e buscar o seu amor imaginário. Dopado de remédios, para dormir o máximo possível, o protagonista retrata o quanto pode ser infeliz a busca pela felicidade.

Delírio Real de um Amor Imaginário
Se algumas vezes nos visitamos em nossos sonhos, para Arthur Rebello, (personagem principal desta narrativa) isto é um fato corriqueiro. O que ele tem a confidenciar?


Como em sonhos, alguns de olhos abertos, acordados por dentro, nosso coração anseia sempre ir mais longe e antes do acontecimento, já sabe das notícias.
O poema de Oliverio Girondo bem poderia descrever o protagonista: ele é irredutível, não perdoa, sob nenhum pretexto, que não saibam voar. Se não sabem voar perdem o tempo as que pretendam seduzi-lo!
Ele também voa, mas talvez para escapar da sua realidade de escritório, da rotina do seu universo e programa cada vez mais seu horário, ainda que não consiga controlar inteiramente o que se passa nele nem na sua própria história. Sua vigília é fragmentada, frágil, soma de suas obsessões, e as letras pequenas das legendas da sua revelação. Realidade ou ficção? As duas ao mesmo tempo no limite do fantástico e do perigoso.


E se a descrição do texto de Girondo parecia delinear parte do perfil de Arthur; é no final do seu poema que aparece na sua totalidade: “…Sou incapaz de compreender a sedução de uma mulher terrestre, e por mais empenho que ponha em concebê-lo, não me é possível nem tão pouco imaginar que possa fazer-se amor a não ser voando.”
João Luis Chiodini consegue unir a reflexão, a metáfora, o questionamento do aparentemente concreto e o túnel que passa debaixo da realidade.
É preciso conhecer a natureza de nossos sonhos, para tentar não sofrer tanto com alguns deles...

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