Já tinha lido alguns livros e poemas de Oliverio Girondo, mas o volume "Obra Completa", coordenado pelo professor argentino da UFSC, Raul Antelo, consegue somar a vanguarda da sua poesia com depoimentos, descobertas, pesquisa, críticas e analises da sua obra dando um panorama completo da sua inesgotável literatura.
Encadernado com sobrecapas, 798 pp. Ilustr. Scipione cultural, 1999, encontramos estudos de Jorge Schwartz, Francine Masiello, Patricia Artunto, entre outros. Traduções de seus poemas por Augusto de Campos e Eliot Weinberger. Assim como depoimentos de Borges, Mariátegui, Mario de Andrade, Manuel Bandeira, etc.
Antelo conta a preparação deste trabalho, em espanhol, num trecho da carta publicada no suplemento cultural "Ñ", onde esclarece e contesta, parte do trabalho de Jorge Schwartz (que não entraremos no mérito agora):
"En 1989, Amos Segala, director de la colección, convoca en San Pablo a una serie de críticos para asumir la tarea de editar algunas obras que integrarían la lista de Archivos, según las premisas de la crítica genética. Schwartz recibe la incumbencia de editar la obra narrativa de Oswald de Andrade (aún inédita) y yo, la poética de Girondo. En sucesivos viajes a Buenos Aires, descubro materiales, hasta entonces desconocidos, que permitieron avanzar las dos hipótesis más interesantes de relectura de esa obra. Primero: que los poemas vanguardistas del carnet de voyage no son otra cosa que la refuncionalización de las crónicas mundanas, modernistas y anónimas, que Oliverio publica en la revista Plus Ultra en la década del 10 y, segundo, que no hay como interpretar el trabajo del poeta sin una red de artífices de la modernización, lo cual se lee tanto en el poema inicial de Espantapájaros (que no sería posible, como claramente se ve a partir del manuscrito, sin el concurso de un tipógrafo cómplice), o bien en los poemas de la arché, fruto de sus exacavaciones arqueológicas en el cementerio Quilmes del NOA, cosa hasta entonces ignorada y que prueba ser de enorme trascendencia porque establece una sutil pero sólida línea de continuidad con la poética antropológica de Arturo Carrera, el mejor heredero de la poética de Girondo. En suma, la edición Archivos propone una relectura posmodernista de la vanguardia. No estuve solo en ese proceso. Me acompañó un equipo integrado por Delfina Muschietti, Adriana Pérsico, Tamara Kamenszain, Francine Masiello, la mejicana Rose Corral, la española Trinidad Barrera, Roxana Páez, Patricia Artundo, dos colegas rosarinos del área de arte, Guillermo Fantoni y Adriana Armando, amén de dos poetas, el brasileño Régis Bonvicino y el mismo Carrera, que prologó la obra con un bellísimo poema, en rigor, un meta-poema, “El pie de Oliverio”. Last but not least, Jorge Schwartz. Todos ellos recibieron, con año de anticipación, mi trabajo de cotejo de variantes, manuscritas y éditas, de tal forma que la consigna era inequívoca: basar sus análisis en el nuevo texto establecido por la edición Archives y no ya en la edición Losada que por entonces circulaba..."
Os textos de Girondo continuam contemporaneos com a construção dos jogos de linguagem que desestabilizam a formalidade, e encantando novas gerações de poetas e leitores. A obra do Antelo e sua equipe, resgata, descobre e faz jus a quem se revelou e ousou ir ao limite da metáfora vanguardista.
Cansaço - Oliverio Girondo
Cansado.
Sim!
Cansado
de um usar um só braço,
dois lábios,
vinte dedos,
não sei quantas palavras,
não sei quantas recordações,
grisalhas,
fragmentadas.
Cansado,
muito cansado
deste frio esqueleto,
tão pudico,
tão casto,
que quando se desnuda
não saberei se é ele mesmo
que usei enquanto vivia.
Cansado.
Sim!
Cansado
por precisar de antenas,
de um olho em cada omoplata
e de uma cauda autêntica,
alegre,
desatada,
e não desta cauda hipócrita,
degenerada,
pequena.
Cansado,
sobretudo,
de estar sempre comigo,
de me encontrar a cada dia,
quando termina o sono,
ali, onde me encontro,
com o mesmo nariz
e com as mesmas pernas;
como se não desejasse
esperar a baixa maré com uma cútis de praia
oferecer, sob o orvalho, os seios de magnólia,
acariciar a terra como um ventre de lagarta
e viver, uns meses, dentro de uma pedra.
tradução: Jefferson Bessa
Cansado.
Sim!
Cansado
de um usar um só braço,
dois lábios,
vinte dedos,
não sei quantas palavras,
não sei quantas recordações,
grisalhas,
fragmentadas.
Cansado,
muito cansado
deste frio esqueleto,
tão pudico,
tão casto,
que quando se desnuda
não saberei se é ele mesmo
que usei enquanto vivia.
Cansado.
Sim!
Cansado
por precisar de antenas,
de um olho em cada omoplata
e de uma cauda autêntica,
alegre,
desatada,
e não desta cauda hipócrita,
degenerada,
pequena.
Cansado,
sobretudo,
de estar sempre comigo,
de me encontrar a cada dia,
quando termina o sono,
ali, onde me encontro,
com o mesmo nariz
e com as mesmas pernas;
como se não desejasse
esperar a baixa maré com uma cútis de praia
oferecer, sob o orvalho, os seios de magnólia,
acariciar a terra como um ventre de lagarta
e viver, uns meses, dentro de uma pedra.
tradução: Jefferson Bessa
5 comentários:
olá, Gabriel.
Primeiro, obrigado por seguir o Palavras Mortas ^^
Seu blog é muito bom. Ultimamente, reconheço, ando meio desleixado com a leitura dos blogs bons por aí, como tbém tenho descuidado dos meus. Quero ver se reinicio meus passeios pela blogosfera.
E quanto a essa postagem... eu tbém, conheço o Girondo por alguns poemas esparsos. É dificílimo encontrar algo sobre ele por aí. Por isso, fiquei muito encantado pela ideia de umm livro reunindo sua obra, além de ensaios sobre ela. E ótimo poema esse postado.
Bem, um abraço
Eu retorno para pescar novas pérolas por aqui.
^^
Obrigado Eduardo. Seu blog também merece uma detalhada leitura e busca... Por isso o estou seguindo e espero merecer também sua atenção.
O livro de Girondo está a preço bem em conta no Estante Virtual... Aproveite.
Abraço
Descobri Girondo somente este ano, em espanhol, e é bom saber deste lançamento.
descobri girondo este ano, em espanhol, é bom saber deste lançamento.
Rishi... Obrigado por seguir os escritos... Girondo merece sempre uma releitura. Era e continua na vanguarda.
Apareça sempre. Abraço.
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