ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

De quem?


Que corpo é este?
E as mãos?
De quem são os passos?
De quem?
Duvido.
Não são os que me levaram
a outra terra,
a outra casa e outra vida.
Era verdadeira a porta
desenhada na parede?
De quem esta língua
que me eterniza estrangeiro?
De quem este ouvido
com vozes de burla?
Quem me aponta defeitos
carregados de fronteiras?
Quem parece estar de volta
quando apenas sei partir?
Não me reconheço
na minha própria visita.
Eram diferentes sapatos
pela fome de estradas,
pelo choro do olho
para dentro.
Suspeito que era outro,
transfigurado em outro
país qualquer;
que por tão maltratado,
obscuro, desaparecido,
a memória que guardo,
é feita de marés.
Se for outro aquele,
Se foi outro, o mesmo,
de quem este corpo,
mutante,
estranhamente vivo?
De quem?

Duvido.

2 comentários:

kajub disse...

Talvez um dia possamos, todos sem diferenças, sentar e conversar a sombra do que somos: um grão de areia meio ao nada....
Lembrei-me do escrito de Rubén Darío:
"Ama tu ritmo y ritma tus acciones
bajo su ley, así como tus versos;
eres un universo de universos
y tu alma una fuente de canciones.
La celeste unidad que presupones
hará brotar en ti mundos diversos,
y al resonar tus números dispersos
pitagoriza en tus constelaciones...."

Beijo.

ítalo puccini disse...

duvidar é preciso.

viver não é preciso.

rs.

grande abraço!
até logo, na feira!

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