ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Em mim


Existe um lugar
em mim
onde nada acontece,
onde ninguém me enxerga
onde tudo morre
a cegas,
e nasce algo depois.
É gaveta vazia,
muda; antigo olhar,
voz íntima,
banco de praça na chuva,
urgência mal iluminada,
mutilada, suja,
cansada de si mesma.
O absoluto, o exagero,
caricia escura na pele,
falta de voz,
nomes inomináveis,
poesia inútil
de ir se apagando,
transformando-se em pó,
barro, raízes,
pulverização, esgotamento,
noite exasperada, fria,
coleção de palavras
que não dizem,
que não estão
que já não dormem
pelo espanto engolido
a seco.
Possessões inúteis,
como a sede
(é apenas o que tenho).
Este parêntesis é falso.
Onde a vida?
Todos os dias,
a certa hora.
Tudo acontece como se
realmente fosse assim.
Ir-me.
Tão só.
Este acento final me afunda
ainda mais.
Deveria ouvir-me dizer nada.
Eu vou.
Abre pra mim?

Grave.
Largo.
Piano.
Forte.

Ouvem?

Podem ouvi-lo?
Musicalizei meu grito.

4 comentários:

Regina Carvalho disse...

Pois sou banco de praça na chuva... e sem música no grito, porque sem grito.
bj

kajub disse...

Sinto uma luta constante com as palavras, com a resistência das emoções.... mas esse, é precisamente o encanto de seus escritos!
Beijo

Ana Lucia Franco disse...

poema arrebatador, apesar do lugar e mesmo por causa dele.

abrs

Anônimo disse...

Plac, plac, plac... Terrivel de bom!

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