É uma pena que não estejas comigo
Quando olho meu relógio e são às quatro horas
E termino de escrever e penso dez minutos
E estico as pernas como todas as tardes
E assim o faço com meus ombros para relaxar as costas
E aperto meu dedos tirando deles as mentiras
É uma pena que não estejas comigo
Quando olho meu relógio e são às cinco horas
E sou uma máquina que calcula juros
E duas mãos que pulam sobre quarenta teclas
E um ouvido que escuta como late o telefone
Ou um cara que escreve números tirando deles as verdades
É uma pena que não estejas comigo
Quando olho meu relógio e são às seis horas
Poderias aparecer de surpresa
E me dizer: Oi, tudo bem... e ficaríamos
Eu com a mancha vermelha dos teus lábios
Você com a tinta azul do meu carbono.
Observação:
Quando este poema esteve de "moda" em Buenos Aires (ainda que o livro "Poemas de la oficina" seja de 1956), eu trabalhava numa companhia petrolífica no começo da década de 80, e muitos que nunca tinham lido poesia, se identificaram de alguma forma com ele... Não existia o mail para ser infinitamente reproduzido, mesmo assim, foi muito bem "aproveitado" (para todos os fins), por quem convivia com sua descrição e precisava de uma pequena "força" na falta de melhores palavras. Quando volto a ele e leio: "duas mãos que pulam sobre as quarenta teclas", eram da velha Olivetti... O telefone que late não era celular... E a mancha azul do carbono, tão útil naquela época, hoje quase desapareceu...
A capa de uma daquelas edições parecia uma pasta...
Velhos tempos, lindos dias.
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