Enquanto escrevia o romance Rayuela, de mais de seiscentas páginas, o escritor argentino Julio Cortázar passou por momentos difíceis. Exausto com o processo criativo que lhe exigiu uma dedicação extrema, muitas vezes só se alimentava porque sua mulher lhe forçava a comer, só dormia porque ela lhe levava para cama, só tomava banho porque ela exigia. "Cheguei num ponto que eu não sentia mais o meu corpo, nem a minha mente", disse o escritor numa entrevista, "era apenas uma espécie de massa sensível que escrevia". Nessas horas, Cortázar lembrava-se comovido de Marcel Proust. "Que emoção indescritível ele deve ter sentido ao escrever a última página de seu romance!". Alcançar a última página, no caso de o autor de Em busca do tempo perdido, significa ter ultrapassado sete volumes, vencido dois mil e quatrocentos e quarenta e oito páginas e sobrevivido a treze anos sobre a escrivaninha. "Eu experimentava uma sensação de imenso cansaço ao verificar que todo esse tempo não só fora sem interrupção, vivido, pensado, segregado por mim, mas era a minha vida, era eu mesmo", revelou Proust, em um de seus cadernos de anotação, perto de terminar a sua saga literária. Escrever Em busca de um tempo perdido tomou um tempo tão longo que a escrita tornou-se a própria vida do escritor.
"Como então terminar um livro?", indagou uma vez a escritora americana Mary McCarthy, "se ele se torna a nossa própria vida?".
"Como então terminar um livro?", indagou uma vez a escritora americana Mary McCarthy, "se ele se torna a nossa própria vida?".
Trecho do interessantíssimo artígo "A última página" de Claudia Lage, no jornal literário Rascunho. Leia o texto completo AQUI.
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