ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Retalhos, mistura de trechos...


Assim como alguns velhos e novos retalhos emendados fazem uma nova peça de cores e texturas; assim como Dj´s adicionam e misturam músicas, ritmos e fazem recriações da sobreposição... Ou antigos alquimistas e suas fórmulas... Assim pequenos trechos de diferentes autores e estilos da literatura dão vida a outros textos...

Irreal

O rapaz soltou o corpo e se deixou deslizar suavemente no banco. - Nunca me aconteceu uma coisa assim – disse, como que falando a si mesmo. (1)

O medo seca a boca, molha as mãos e mutila. O medo de saber nos condena à ignorância; o medo de fazer nos reduz à impotência. (2)

Essas emoções repetidas e inesperadas, se tivessem que continuar, poderiam transformar uma perturbação mental passageira e momentânea numa doença crônica. (3)

- Devagar, devagar... Não fique preocupado. Você verá que não é nada. (4)

Era preciso reconhecer que seus olhos esbugalhados perfuravam a escuridão. (5)

- Não entre! Não entre! (6)

Trancou-se no banheiro e lavou varias vezes o rosto. Precisava refrescar-se, afogueado. Um frio fogo o queimava. (7) Mesmo não querendo, todo homem é feito de fugas, maiores ou menores, graves ou inconsequentes. O fugir é o pai da mentira. (8)

Do outro lado dos livros, transposta a superfície preta e branca das palavras impressas, do outro lado de um jardim e de uma grade de ferro, o mundo parece irreal, ou, melhor dizendo, o mundo é exatamente essa irrealidade. (9)

Esta página, por exemplo, não nasceu para ser lida. (10)


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1 – Julio Cortazar. Bestiário. 1986. Editora Nova Fronteira. Ônibus. Pág. 57.
2 – Eduardo Galeano. O livro dos Abraços. 1989. Coleção L&PM. 2007. A desmemória 2. Pág 110.
3 – Vincent Van Gogh. Cartas a Théo. L&PM editora. 2002. Carta de 22 de fevereiro de 1889. pág 341.
4 – Luigi Pirandello. Male di Luna. Os melhores contos de loucura – Flávio Moreira da Costa, organização. 2007. Ediouro. Pág. 104.
5 – César Aira, A luz Argentina, 1983, Uma Buenos Aires de Novela, Editorial Sudamericana, pág 338.
6 – Horacio Quiroga. A galinha Degolada. Os melhores contos de loucura – Flávio Moreira da Costa, organização. 2007. Ediouro, pág 89.
7 – Otto Lara Resende. O Elo Perdido. Para gostar de ler. Editora Ática. 1992. Pág 66.
8 - Rubens da Cunha. Aço e nada. 2007. Design Editora. A fuga de todos nós. Pág 130.
9 - Ricardo Piglia. O último leitor. 2006. Companhia das Letras. Pág 29.
10 – Paulo Leminski. Distraídos venceremos. 1987. Editora brasiliense. Pág. 15.

2 comentários:

Rubens da Cunha disse...

Obrigado Gabriel, fico feliz por ter sido colocado nesse time de peso. Na verdade, até receoso :)) a minha modéstia foi para o espaço agora :))

abraços
Rubens

ítalo puccini disse...

cara, ficou genial!

essa coisa da escrita recortada e entrecortada eu gosto por demais!

grande abraço.

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