ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Cartas e diários (1)

Não existe um livro de correspondências do poeta catarinense Lindolf Bell (1938-1998). Mesmo assim, guardo postais e cartas que trocamos na década dos 90. Gostava de reaproveitar envelopes que recebia, ou escrevia nos papéis de carta do projeto com fotografias de Lair Bernardoni. Conservo também algumas camisetas (corpoemas) e adesivos com imagens de Cao Hering que também traziam seus poemas. Em todas as assinaturas, o desenho estilizado do seu girassol. Uma delas é de agradecimento: "... de portas abertas. E coração.", e registra quando organizamos com a Fundação Cultural, sua vinda para declamar poesias em praça pública (sua Catequese Poética, iniciada em 1964) no calçadão de Rio do Sul, enquanto eu sobrevoava de ultraleve (!?), jogando livros, folhas e cartazes com seus poemas para o público reunido no local. "O que o coração sabe, o poema sabe antes...". Quantos encontros depois, jantares recheados de poesia, visitas à Galeria Açu-Açu e até a compra do quadro de Juarez Machado do seu acervo...
Numa dessas postais está o poema: "Enquanto dois peixes, dois pássaros, dois homens, fizerem do sonho\ o sonho de vários peixes, vários pássaros, vários homens\ permanecerá vivo o sonho de solidariedade entre os homens".
Constatamos a verdade das palavras de Paulo Leminski: "Nunca tinha visto ninguém dizer poemas tão bem, com tanta intensidade, tanta garra, tanto domínio de voz, do gesto e do sentido. A Catequese de Bell, a vanguarda da palavra dita, é um tempo forte dessa efervescência".
Não esqueço sua felicidade na hora de tantas homenagens... E a nossa.
Em 1994, junto com 13 colegas, lançou 150 poemas em garrafas no rio Itajaí-Açu... Sem dúvida, outro efetivo e poético modo de correspondência.
Sua sensibilidade, humildade e arte deixaram saudades.
"Faço um poema... me desfaço". E a poesia o recria sempre.

2 comentários:

Regina disse...

Não tenho mais nenhuma camiseta do corpoema!
Vou roubar as tuas, hehehe...
bj

Gabriel Gómez disse...

Eu sabendo que tudo passa, não usei mais algumas e guardei como lembrança. Posso apenas emprestar, mas desconfio que servirá como camisola... bj.

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