ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

HILDA HILST E ALEJANDRA PIZARNIK: PASSEIOS POÉTICOS CORPÓREOS


Achei muito interessante o texto da professora Joelma Rodrigues da Universidade Federal de Pernambuco, onde compara a literatura de duas escritoras que sentiram (e escreveram) sua poesia de forma total, completa, "corporal".
Sou leitor de Alejandra e Hilda Hilst e gostei da sua analise e proximidade...

"Andando pelas ruas escuras de Londres, pisava Sylvia Plath sobre folhas adormecidas no frio. O barulho não era o mesmo do verão passado quando tilintavam pássaros buscando os restos de comida deixados pelos turistas. Restava à poeta apenas o corpo barulhando com o vento e o silêncio. E corpo que barulha com o vento e o silêncio é poesia. Sylvia Plath fazia poesia nas madrugadas inglesas, e a fazia com o corpo. Seriam seus ossos, sangue e carne o sustento do corpo, como são as imagens, delírios e milagres varadouro da poesia?
Em meados do século passado duas poetas latino-americanas, Hilda Hilst e Alejandra Pizarnik, pareceram querer responder à questão levantada por Plath em suas folhas. Em dois trabalhos importantes intitulados Do desejo (1992) e Árbol de Diana (1962), inscreveram a primeira e segunda autoras, respectivamente, as marcas do corpo na poesia.
O Corpo, nos versos de Hilda e Alejandra, representa uma espécie de corredor onde imagens e sensações saem e retornam continuamente. É um corpo vivo que expele secreções do gozo do sexo e da linguagem; é um corpo-vislumbre que mesmo silencioso se comunica: “yo me he unido al silencio/ y me dejo hacer/ me dejo beber/ me dejo decir”. É um corpo que se ritma por sensações e cores - nos versos de Pizarnik há muitas referências à luz, sombras, transparências e medos: “más allá de cualquier zona prohibida/ hay um espejo para nuestra triste transparencia” –, tão concretas como a boca e o tato: ”colada à tua boca, mas descomedida/ Árdua/ Construtor de ilusões examino-te sôfrega”.
De modo geral, há boca, sangue, pele, rostos, coração, cérebro, sexo, dedos, ossos, carne, olhos. Para além de simples palavras que definem partes do corpo humano, há uma salada significante onde o delírio poético transgride o corpo como máquina, cartesiano e funcional, para o corpo cósmico, que é trágico – “e fodes como quem morre a última conquista” – e lírico – “com el silencio de su sangre/ la noche bebió vino/ y bailo desnuda entre los huesos de la niebla”. O caráter cósmico do corpo em Do desejo e Árbol de Diana tem sua aferição no sentido que lhe deu Gaston Bachelard, no alferes do devaneio: “fenômeno da solidão, um fenômeno que tem sua raiz na alma do sonhador” (BACHELARD, Gaston, 1988, p.13-4).
O corpo que se torna matéria cósmica na poesia é fruto do sonho do poeta, é o meio processual pelo qual atravessam as sensações e o desejo de comunicação com o mundo. Assim, se a poesia imprescinde do delírio, também o faz com o corpo. Seja transporte do sonho, casulo de inspiração ou objeto de transpiração, o corpo é inevitável."


Leia o texto completo AQUI.

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