ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

domingo, 7 de março de 2010

Dois poemas de Arnaldo Antunes


Arnaldo Antunes - Poemas Visuais
Seja o que for - 2002
Publicado inicialmente no livro PALAVRA DESORDEM, ed. Iluminuras (2002).
Os Buracos do Espelho
Arnaldo Antunes O Globo: 27/07/2009
o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar aqui
com um olho aberto, outro acordado
no lado de lá onde eu caí
pro lado de cá não tem acesso
mesmo que me chamem pelo nome
mesmo que admitam meu regresso
toda vez que eu vou a porta some
a janela some na parede
a palavra de água se dissolve
na palavra sede, a boca cede
antes de falar, e não se ouve
já tentei dormir a noite inteira
quatro, cinco, seis da madrugada
vou ficar ali nessa cadeira
uma orelha alerta, outra ligada
o buraco do espelho está fechado
agora eu tenho que ficar agora
fui pelo abandono abandonado
aqui dentro do lado de fora

2 comentários:

ítalo puccini disse...

gabriel, como me identifico com as referências postadas por ti!

adoro os poemas do antunes, visuais ou não. li há pouco a antologia dele. amei!

grande abraço daqui!

Gabriel Gómez disse...

É isso ai Í.ta...Nossas referências se referem a nós... Arnaldo é vanguarda. Abraço!

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