Acordo com a baba de um poema num canto da boca.
Parece seguir-me, implacável.
Ainda na vigília, cai lento, arrastado,
espera que o revele
em palavras que nem sempre alcança.
Procura dedos e bocas
que o traduzam.
Quer atravessar-me, sou intermediário.
E que participe o menos possível.
É mesquinho agora.
Sórdido na sua ânsia de mostrar-se.
Quer fluir, solto, sem estorvo
na folha branca do falso papel na tela.
Escondo-o embaixo da língua do pensamento.
Agora não, agora não posso...
Volta mais tarde...
Mas deixa soltas as metáforas,
Lança verbos e alegorias
como balas de fogo amigo.
Corre e grita nas escadas, ruas e parques.
Cai ferido, livre, espremendo pedras.
Busca o espaço que o guarde.
E as linhas não alcançam o lado oposto da folha.
Rodeia, cercando a vítima.
Segue-me como cachorro fiel, teimoso.
E pede carne.
Junta a miséria cotidiana
para desculpar o que sente.
Não lhe interessa nada de mim.
Apenas que o exponha, sangrando,
na placenta de silêncio que acaba de nascer.
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