Depois de enterrar a espada contra seu peito, e já na frente da passagem derradeira, o guerreiro encontrou um dos guardiões do portão. Mesmo com a alma atordoada, aproveitou para manifestar sua ira, a fúria acumulada de tanta desventura. E entre memórias e lamúrias, desabafou:
– Sei que não fui um exemplo. Mesmo com a fé abalada, continuei acreditando na justiça e, assim, esperei com paciência a punição do responsável por todas as desgraças que suportei, de todos os infortúnios a que fui submetido, de todas as adversidades, infelicidades e desditas. Penalizar finalmente, aquele que até na paz me amaldiçoava.
O guardião manteve-se em silêncio, ouvindo com atenção.
– Não houve artilheiro que descansasse em mim. – continuou a reclamar o guerreiro – Rezei com insistência e nada obtive. Continuava a suportar tudo, incessante. Enquanto pedia sua morte, mais eu padecia. Quanto mais exigia e demandava sua infelicidade, mais o sofrimento chamava a minha porta. Até no último minuto, acreditei avistar sua máscara sinistra como última revelação. Um segundo antes do fim, esperei sua pena imposta para finalmente descobrir sua identidade. Mas nada foi feito. Cansado, o sangue do metal me persegue agora de um modo eterno. Por que deixaram que tirasse minha vida sem castigar o responsável por todo meu mal?
– Não houve artilheiro que descansasse em mim. – continuou a reclamar o guerreiro – Rezei com insistência e nada obtive. Continuava a suportar tudo, incessante. Enquanto pedia sua morte, mais eu padecia. Quanto mais exigia e demandava sua infelicidade, mais o sofrimento chamava a minha porta. Até no último minuto, acreditei avistar sua máscara sinistra como última revelação. Um segundo antes do fim, esperei sua pena imposta para finalmente descobrir sua identidade. Mas nada foi feito. Cansado, o sangue do metal me persegue agora de um modo eterno. Por que deixaram que tirasse minha vida sem castigar o responsável por todo meu mal?
Depois de ouvir todas suas reclamações, finalmente o guardião objetou:
– Estás enganado, fizemos exatamente aquilo que pedias.
– Estás enganado, fizemos exatamente aquilo que pedias.
De Diván de Almotásim el Magrebí (Século XII)
(Do meu livro Borges e outras ficções)
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