Encontro pessoas, que aparecem no meio de outras pessoas, e me oferecem câmbio e couro. Devo estar diferente mesmo – penso –, levanto a gola do paletó, faço um gesto qualquer e coloco a mão no bolso para disfarçar. Junto-me a milhares que tomam café em alguma esquina e lêem quase o mesmo jornal. O futebol continua alimentando cegas paixões e justificando frustrações, inimizades e guerras populares. A cidade é um animal indiferente. Já não há poesia que me espante.
Táxis rondam vítimas. Há vozes, que não parecem; são pontes entre abismos, solidões disfarçadas, duplicadas por celulares pendurados em alguma parte da aflição. Um bandoneón, com fundo eletrônico, faz a nova trilha, no meio do pó que se renova, e arrasta lembranças que teimam em evaporar-se. O casal dança na rua, e pede ajuda em cada passo que desenha. Da porta de uma loja, o funcionário arrisca um mate, parece entediado, mesmo com clientes. Um outro vigia, sempre sério, desconfiado, e não atende. Há barulho de queixas, bumbos, caçarolas e também de buzinas que se queixam porque quem faz barulho ainda atrapalha o trânsito. Ônibus, cachorros, muitos cachorros na rua. Abandonados ou amarrados, que nem buquê de flores canil; juntos, levados ao passeio pela mesma mão. Vejo alguns cinemas que agora são templos, outros já criaram uma nova religião, e os sebos continuam demorando gente. Ninguém me conhece; só reconheço o que mudou, o que já não está. O cheiro permanece naquilo que não enxergo. Chagas, triunfos, traições e um sofrimento mítico incorporado, convivem como escudo, entre a ironia do dia e alguma filosofia de mesa de bar.
Táxis rondam vítimas. Há vozes, que não parecem; são pontes entre abismos, solidões disfarçadas, duplicadas por celulares pendurados em alguma parte da aflição. Um bandoneón, com fundo eletrônico, faz a nova trilha, no meio do pó que se renova, e arrasta lembranças que teimam em evaporar-se. O casal dança na rua, e pede ajuda em cada passo que desenha. Da porta de uma loja, o funcionário arrisca um mate, parece entediado, mesmo com clientes. Um outro vigia, sempre sério, desconfiado, e não atende. Há barulho de queixas, bumbos, caçarolas e também de buzinas que se queixam porque quem faz barulho ainda atrapalha o trânsito. Ônibus, cachorros, muitos cachorros na rua. Abandonados ou amarrados, que nem buquê de flores canil; juntos, levados ao passeio pela mesma mão. Vejo alguns cinemas que agora são templos, outros já criaram uma nova religião, e os sebos continuam demorando gente. Ninguém me conhece; só reconheço o que mudou, o que já não está. O cheiro permanece naquilo que não enxergo. Chagas, triunfos, traições e um sofrimento mítico incorporado, convivem como escudo, entre a ironia do dia e alguma filosofia de mesa de bar.
6 comentários:
Bom dia Gabriel.
Hoje é a segunda vez que visito seu blog e tive a percepção do tempo que perdi.
Vou recupera-lo e participar mais, pois gostei muito do que lí.
Parabéns pela iniciativa e sucesso nesta jornada.
abraços
Juliano Cesar Goral
Obrigado Juliano... Fique a vontade entre meus escritos e sua participação.
Abraço!
Pois eu ainda sonho com os morangos do Café Tortoni... Prefiro assim!
bj
Ahhhh o Café Tortoni... A história da política e da literatura passa por aqui... Existe uma área aos fundos, para fumantes, bem mais interessante por ter diversas fotos e lembranças de alguns celebres frequentadores que passaram por estas mesas... Em janeiro, além do meu costumeiro café, peço em teu nome, os morangos... Bj
Ai, que inveja! Serão morangos vicários, mas já é alguma coisa, hehehe...
bj
Tenho um livro q conta algumas histórias do Tortoni... Prometo que transcrevo algumas aqui. Bj Regininha.
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