Quantas Buenos Aires submersas? Onde se esconde aquela que perdi? (Ou se perde aquela que escondi?) Provavelmente nas múltiplas cidades que Calvino identificou: “... de quem passa sem entrar é uma; é outra para quem é aprisionado e não sai mais dali; uma é a cidade à qual se chega pela primeira vez, outra é a que se abandona para nunca mais retornar.”.
Tento recuperar sua (minha) memória como antropólogo urbano; suas (minhas) marcas que a identificam e promovem legitimidade. Ate onde era minha?
Entro no cemitério da Recoleta, e ai, conto meu pé de realidade para quem queira me ouvir. Pergunto-me, onde estou? E uma voz feminina não me responde. E volto a perguntar-me, como sei que é feminina?
Tento recuperar sua (minha) memória como antropólogo urbano; suas (minhas) marcas que a identificam e promovem legitimidade. Ate onde era minha?
Entro no cemitério da Recoleta, e ai, conto meu pé de realidade para quem queira me ouvir. Pergunto-me, onde estou? E uma voz feminina não me responde. E volto a perguntar-me, como sei que é feminina?
Uma cidade de camadas, de pó antigo e espanadores de espectros; que respira melhor de noite, azul, intensa e contornos vagos de persecuções e anonimatos.
A nova em cima da velha, em cima da outra e da outra, mais velha, como pele de tinta fina ou tule, que cobre e abafa muitas outras. Verdadeiras caixas chinesas. O ar está sem anúncios nem gavetas para esvaziar, mas embaralhado, e revela de forma precária, hipotética, aquilo que nunca saberemos de nós.
Como “Leônia”, uma das tantas Cidades invisíveis, e que se refaz todos os dias. Nela a gente acorda todas as manhãs em lençóis frescos, lava-se com sabonetes recém tirados das embalagens, veste roupões novíssimos... Só que quanto mais a cidade expele, pelas coisas que todos os dias joga fora para dar lugar às novas, mais coisas acumula; as escamas do seu passado se solidificam numa couraça impossível de tirar; renovando-se todos os dias, a cidade conserva-se em sua única forma definitiva: a do lixo de ontem que se junta ao lixo de dias, anos e lustros. De tanto querer ser nova, acumula, afasta de si o velho, e a ameaça de desmoronamento do que expurga é iminente. Basta que alguma coisa, qualquer coisa, pequena ou insignificante, se precipite, que afunde a cidade no passado que em vão tenta repelir, e vestir-se de nova.
Aquela que segundo Piglia é “a cidade ausente” e está inserida cedendo lugar às múltiplas cidades internas que o imaginário humano é capaz de construir. E ficam na lembrança, em silêncio, do que possivelmente nunca foi, ou foi só para nós antes de perdê-la, nossas cidades particulares, embaixo das linhas do atual. Parece haver sempre duas maneiras de lê-la: uma a aumenta, a outra a anula em mistérios parcialmente revelados. E me perco em pactos secretos, vingado na memória das emoções.
Perder-me é desdobrá-la. Penso em outra coisa sem parar de pensar no mesmo, percebo o que acontece quando nada acontece, e ando para trás sem recobrar as asas.
A nova em cima da velha, em cima da outra e da outra, mais velha, como pele de tinta fina ou tule, que cobre e abafa muitas outras. Verdadeiras caixas chinesas. O ar está sem anúncios nem gavetas para esvaziar, mas embaralhado, e revela de forma precária, hipotética, aquilo que nunca saberemos de nós.
Como “Leônia”, uma das tantas Cidades invisíveis, e que se refaz todos os dias. Nela a gente acorda todas as manhãs em lençóis frescos, lava-se com sabonetes recém tirados das embalagens, veste roupões novíssimos... Só que quanto mais a cidade expele, pelas coisas que todos os dias joga fora para dar lugar às novas, mais coisas acumula; as escamas do seu passado se solidificam numa couraça impossível de tirar; renovando-se todos os dias, a cidade conserva-se em sua única forma definitiva: a do lixo de ontem que se junta ao lixo de dias, anos e lustros. De tanto querer ser nova, acumula, afasta de si o velho, e a ameaça de desmoronamento do que expurga é iminente. Basta que alguma coisa, qualquer coisa, pequena ou insignificante, se precipite, que afunde a cidade no passado que em vão tenta repelir, e vestir-se de nova.
Aquela que segundo Piglia é “a cidade ausente” e está inserida cedendo lugar às múltiplas cidades internas que o imaginário humano é capaz de construir. E ficam na lembrança, em silêncio, do que possivelmente nunca foi, ou foi só para nós antes de perdê-la, nossas cidades particulares, embaixo das linhas do atual. Parece haver sempre duas maneiras de lê-la: uma a aumenta, a outra a anula em mistérios parcialmente revelados. E me perco em pactos secretos, vingado na memória das emoções.
Perder-me é desdobrá-la. Penso em outra coisa sem parar de pensar no mesmo, percebo o que acontece quando nada acontece, e ando para trás sem recobrar as asas.
2 comentários:
Olá Gabriel
grata por vc passar na terradegabriel e deixar sua voz. Suas premiações deixam claro a qualidade de seus escritos. Estou apenas começando nesse mundo das letras e agradeço o carinho.
Parabéns e sucesso.
Maeles
Agradeço também sua visita Maeles, e espero muitas outras... Esta é nossa terra, a da escrita.
Entre! Fique a vontade...
Muito obrigado!
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