ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

terça-feira, 15 de dezembro de 2009

Cerimônias do Silêncio (17)


Tango fango

Pernas pintam
movimentos de tango.
Que dialogam, acossam,
como duas vozes laçadas,
como duas cores, camadas...
Descalças pinceladas.

Já dancei muitas vozes,
muitas com silêncios e sombras.
E encontrei no silêncio, as dobras
dos passos
compassos confessos.

Ouvir-me
como quem ouve a chuva
que cai,
desaba
com fisionomia
menos dura

Mas tenho sujos os pés
de tantos sonhos pisados
que desbordam, sem anuncio,
sem rumo, abafados,
quase me tango
no ar que danço,
barro fango de mim.

Pintar nossa dança, nossa aldeia
e a voz
estreita laços e pulsos.
Ilumina, canta.

Dançar sem música,
pintar sem cores, sem nada.

Diluir-me nas coisas.
Esvaziar-me.
Transparecer
até parecer
céu...

Então,
meu silêncio
da falta de silêncio,
será a fresa da pausa,
dos pássaros sem asas,
dos lázaros que não andam

E
É no som que não ouvimos.
E
nas formas que não estamos,
que meu passo sangra tinta.
Coração de tango.

Com razão,
meus braços couraça
o frágil
olhar que me lágrima.

Sua arte me expõe.
Seu traço me traça.

E o tango fango termina.

E ficamos, quietos, mãos juntas
no silêncio
que não lê.
Do som
que não palavra.
Da cor
que não pinta.
Do corpo
que já não dança.

Se por um lado nos afunda,
pelo outro, também grita:
Levanta-te e
anda!

Um comentário:

Anônimo disse...

Interessante...

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