Concordo com quem disse que acredita mais no alfaiate que nos antigos amigos. Ele toma sempre novas medidas, avaliações de adjacências e arrabaldes do meu corpo, e assim chega o mais próximo possível dos meus contornos atuais. Os amigos, não. Continuam com as velhas estimativas, talhes ultrapassados de mim mesmo, com aqueles que alguma vez tomaram de olho, há muito tempo, e querem que eu caiba nelas, que seja sempre aquilo que uma vez já fui. Ou que eles pensaram que fosse. E ficam com os cadáveres passados expostos, sem distinguir que continuamos respirando em outros formatos, e trocamos de mobília.
Mudo sempre minhas balizas. Transbordo de todas elas. Embora existam limites que não queiram reconhecer novas conquistas, levam tempo para sair de nós, esquecer-nos. Ficam que nem carrapatos abocados na carne, colados nos corpos, com a obsessão da perda, da queda, do estrago. Entre o cheio e o vácuo, o repleto e a nada. Outros fazem parte dos pedaços que perdemos e não juntamos, vão e voltam trazendo outros, e demoramos em reconhecer que alguma vez foram nossos. Sem saber, vamos cunhando novas formas ainda não criadas na menção, reveladas apenas na muda visibilidade do silêncio.
Mudo sempre minhas balizas. Transbordo de todas elas. Embora existam limites que não queiram reconhecer novas conquistas, levam tempo para sair de nós, esquecer-nos. Ficam que nem carrapatos abocados na carne, colados nos corpos, com a obsessão da perda, da queda, do estrago. Entre o cheio e o vácuo, o repleto e a nada. Outros fazem parte dos pedaços que perdemos e não juntamos, vão e voltam trazendo outros, e demoramos em reconhecer que alguma vez foram nossos. Sem saber, vamos cunhando novas formas ainda não criadas na menção, reveladas apenas na muda visibilidade do silêncio.
Do livro Borges e outras ficções
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