ESCRITOS DO GABRIEL

(Tentar que nossas palavras sejam, através de nós ou, quiçá, apesar de nós.
Meus textos, meus rascunhos com erros... )



"Então, um dia comecei a escrever, sem saber que estava me escravizando para o resto da vida a um senhor nobre, mas impiedoso. Quando Deus nos dá um dom, também dá um chicote – e esse chicote se destina exclusivamente à nossa autoflagelação."

Introdução do livro Música para Camaleões, de Truman Capote.

sábado, 5 de dezembro de 2009

Buenos Aires - Goofus Bird (final)

Na ilha do dia anterior, de Umberto Eco, os visitantes não conseguem fixar um ponto no espaço no qual o tempo possa ser medido, tornando impossível inscrevê-la no presente. Tanto na ilha como naquelas tantas cidades que já não conseguimos possuir, o que vemos talvez não seja a mesma que os outros percebam. A paisagem só alcança espelhar a visão do mundo de cada viajante.
A saudade, um exagero do tempo que ele mesmo extrapola, é a porta giratória que nos devolve sempre a mesma entrada. Sou um viajante imóvel que pensou ir embora, mas que nunca conseguiu sair por completo. Dois mapas superpostos. Que inventar então com as imagens e vozes contidas, que permanecem como fantasmas, nos vazios da memória? Como mapear, em que espelho enxergar o que já não existe? O passado continua se distanciando cada vez mais rápido; os dias são curtos, muito curtos para desfilar todos nossos mortos. Buenos Aires não passa mais pela mesma rua. A morte continua melhorandonos constantemente.
E assim, como eu procurei por ela, sem sucesso, talvez ela também não tenha me reconhecido... Os dois continuaremos sem nos ver.
O Goofus Bird parece querer voar, de forma infinita, sobre o mesmo que já não está.

2 comentários:

Anônimo disse...

A cultura deste país é riquíssima!!
Meu sonho em relação à Argentina, é aprender a dançar tango...

Gabriel Gómez disse...

Um dos meus também...
Obrigado pelo comentário.

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