
Medida
"Pouquinho, mas fui feliz"
(Frase escrita num muro das ruas de Montevidéu)
"Pouquinho, mas fui feliz"
(Frase escrita num muro das ruas de Montevidéu)

“... Então sai ao corredor para jogar o lixoDo meu livro "Borges e outras ficções".
Estou lendo, simultaneamente, 3 livros de Alejandra Pizarnik: sua prosa, sua antologia poética e seus diários.
Bem-vindo
Não me chama estrangeiro,
Com este texto participo do livro "Nada tem Nome", coletânea do SESC, que terá seu lançamento em 2010 (e que já está em minhas mãos...). 
Li, reli e sempre volto a consultar o livro (em espanhol): “Ao pé da letra – Guia literária de Buenos Aires”, de Álvaro Abós (Editora Grijalbo, 343 pág). Parece fantástico poder descobrir uma cidade a partir dos locais onde nasceram, moraram e criaram escritores como Julio Cortazar, Adolfo Bioy Casares, Alejandra Pizarnik, Sábato ou Borges. Onde deixaram suas pegadas portenhas Antoine de Saint-Exupéry, Ramón Gómez de la Serna ou Federico Garcia Lorca.
Esses papéis do passado que guardo numa caixa são meu zoológico particular: ali estão trancadas feras de tamanho reduzido: lagartos, ratos, serpentes de pele fria. Basta abrir a tampa para vê-los moverem-se, minúsculos como as minúsculas placas de gelo que navegam em meu sangue. No redil da história apresento os animais da manada: alimento-os com a carne de meus próprios pensamentos. (...) Esta noite, ao mergulhar a mão direita na caixa onde guardo meus papéis, os animais subiram até meu antebraço, moviam as patinhas, as antenas, tentando sair ao ar livre. Esses répteis, que se arrastam por minha pele cada vez que resolvo mergulhar a mão no passado, provocam em mim uma infinita sensação de repugnância, mas sei que o roçar escamoso de seus ventres, o contato afiado de suas patas, é o preço que tenho que pagar toda vez que quero comprovar quem fui.Introdução a meu conto "Sobre nós" com texto de Ricardo Piglia.

“Nada tem nome”, é justamente o nome do novo livro da “Coleção Caderno de Autoria” do Sesc, Rio do Sul, organizado pelo escritor Manoel Ricardo de Lima. Ele já está pronto (um está comigo...) e o lançamento acontecerá nos primeiros meses de 2010.
O Blog “Escritos do Gabriel” nasceu simples, continua na sua forma, mas com alguns itens incorporados de interesse literário e participativo, que incrementam seu valor...
... Apenas suspeito que ela não exista... Ou suspeito só de mim. Escuto a voz de uma das tantas mulheres que a compõem e não sei o que digo mais. A fome do seu corpo me mantém acordado. E se ilumina.
Habitantes
Na ilha do dia anterior, de Umberto Eco, os visitantes não conseguem fixar um ponto no espaço no qual o tempo possa ser medido, tornando impossível inscrevê-la no presente. Tanto na ilha como naquelas tantas cidades que já não conseguimos possuir, o que vemos talvez não seja a mesma que os outros percebam. A paisagem só alcança espelhar a visão do mundo de cada viajante.
Embora pareça ter mais gente, faltam muitos e ficaram menos, marcados pela ausência. E nunca acabam por chegar. O culto ao que já não está, ao que já se foi, parece necessário, mas é doentio exumar eternamente o que não pára em si, e ainda teima, caprichoso, viver entre nós com o coração virado ao sul. E as coisas minúsculas, aparentemente despercebidas, hoje parecem longos poemas. Tenho que traduzi-la constantemente, enquanto ela se diverte assustando quem volta.
Quantas Buenos Aires submersas? Onde se esconde aquela que perdi? (Ou se perde aquela que escondi?) Provavelmente nas múltiplas cidades que Calvino identificou: “... de quem passa sem entrar é uma; é outra para quem é aprisionado e não sai mais dali; uma é a cidade à qual se chega pela primeira vez, outra é a que se abandona para nunca mais retornar.”.
Desconheço algumas palavras; elas tomaram outro rumo, vestiram outra roupa de camuflagem renovada. O sotaque diluído me separa ainda mais. A cidade é um pentagrama que persegue a própria voz, sem palavras, em fotos amarelas e flores secas. Nos restaurantes se esconde, dissimulada, a realidade que finge ser outra. E fica sempre rindo no outro lado da calçada. Espero para cruzar a Avenida Corrientes, enquanto dois policiais se cumprimentam com um beijo; o velho culto à amizade, intocável, incompreendidamente popular.
Encontro pessoas, que aparecem no meio de outras pessoas, e me oferecem câmbio e couro. Devo estar diferente mesmo – penso –, levanto a gola do paletó, faço um gesto qualquer e coloco a mão no bolso para disfarçar. Junto-me a milhares que tomam café em alguma esquina e lêem quase o mesmo jornal. O futebol continua alimentando cegas paixões e justificando frustrações, inimizades e guerras populares. A cidade é um animal indiferente. Já não há poesia que me espante.
Apenas por curiosidade, coloquei no Blog, um dispositivo (Live Traffic Feed, na lateral esquerda) que identifica de onde estão vindo seus acessos. Para minha surpresa, numa semana, percebi que além de receber diferentes visitas da nossa região e estado (Blumenau, Itapema, Florianópolis, etc) algumas também foram de Curitiba, Rio de Janeiro e São Paulo. Mas fiquei realmente admirado com outras de diferentes cidades da Argentina, Espanha e Portugal...
Caminho com o risco do imprevisível. A poucos metros da rua larga, o rio e o porto. Preto de óleo, água suja, fumaça e hálitos vencidos que o vento traz e abandona na lembrança. Agora é porto Madeiro, belo, caro, cuidado. Por cima, por baixo, e dentro de mim, Buenos Aires. Demoramos em aceitar alguns fatos, não acreditamos totalmente que o tempo tenha transformado algo, deixando só alguns rastros e pistas da passagem. Quando voltei, lembrei que não haveria “mais penas nem esquecimento”. A letra do tango é uma meia verdade...
Exatamente ali,